A síndrome do túnel do carpo é um conhecido inimigo de quem trabalha muitas horas no computador, apoiando os cotovelos na mesa e mexendo no mouse. Ela ocupa o 1º lugar no “ranking” desse tipo de problema nos nervos dos membros superiores e pode ser tratada com repouso do membro afetado, mudanças de postura (ditadas pela ciência da ergonomia), fisioterapia, exercícios físicos e medicamentos, quando necessário. Casos mais graves podem exigir cirurgia, mas normalmente o assim chamado “tratamento conservador” resolve.

Porém, existe um outro problema de natureza semelhante, muito menos conhecido, que talvez por isso leve as pessoas que o manifestam a demorar mais tempo para procurar orientação especializada. Enquanto a síndrome do túnel do carpo atinge um nervo que passa no “meio” do antebraço e “sobe” para a região central da mão, provocando dor e dormência no punho e entre o polegar e o dedo médio, este outro caso atinge o nervo ulnar, que percorre a área lateral mais externa do antebraço e afeta o dedo mínimo (o conhecido mindinho) e o anelar, “seu vizinho”.

Segunda colocada em incidência entre distúrbios desse tipo, a neurite ulnar* (neurite é o nome que se dá a uma inflamação num nervo) provoca, como um dos sintomas mais comuns, o fenômeno chamado parestesia, um comprometimento do impulso nervoso que pode ser percebido como redução da sensibilidade, formigamento, dormência, sensação de “choquinhos” ao contato – e dor. Essas manifestações podem ser contínuas, mas também intermitentes, podendo por isso ser confundidas com a dormência temporária típica de posições que “prendem” a circulação.

Sabe aquele ponto do cotovelo que, quando batemos em algum lugar, provoca uma repentina e desagradável sensação de “choque” que corre pelo antebraço até a mão, às vezes também subindo pelo braço até o ombro? É exatamente ali que passa o nervo ulnar, que é considerado periférico, por estar muito mais próximo à “superfície” do braço, diferente de outros nervos do corpo, envoltos em tecidos mais consistentes, como gordura e músculos, por exemplo.

O, digamos, problema do nervo ulnar é que em seu trajeto, nos pontos em que passa entre duas pequenas saliências ósseas do cotovelo e na parte externa do punho, ele fica realmente muito exposto a traumas, pois está coberto quase que somente pela nossa pele, mesmo no mais musculoso dos atletas. Por isso, quase todo mundo já sentiu aquele “choque” no cotovelo.

Se o problema não for adequadamente tratado, traumas repetidos na região podem agravar o quadro, levando a perda de força e coordenação motora fina nos dedos mínimo e anelar – o que compromete a função da mão muito mais do que se pode pensar num primeiro momento. Tente, por exemplo, pinçar um objeto qualquer, mesmo leve (uma xícara, por exemplo), sem utilizar esses dois dedos e comprove por você mesmo. No limite, a perda de função pode ser permanente e resultar no que é conhecido como “mão em garra”, nome autoexplicativo.

A neurite ulnar pode ser tratada da mesma forma que a síndrome do túnel do carpo: com mudança ergonômica na forma de trabalhar, fisioterapia, exercícios físicos e medicamentos, quando necessário. Igualmente, quadros mais graves podem exigir cirurgia – que é pouco invasiva e tem alto índice de sucesso – mas a maioria dos casos regride e se resolve com o tratamento conservador, que, claro, merece prioridade. Com raríssimas exceções, se é que existem, qualquer tratamento não cirúrgico será ainda menos invasivo que a menos invasiva das cirurgias.

Quem manifesta os sintomas descritos precisa procurar orientação médica sem demora, começando por uma consulta com um ortopedista, que encaminhará, ou envolverá no tratamento, se necessário, profissionais de saúde de outras especialidades, como neurologia, fisioterapia etc. A neurite ulnar não costuma ser um problema grave, mas pode vir a ser, se não tratada, e como qualquer questão de saúde não pode ser subestimada. As mãos são muito importantes em nossa vida, o que muitas vezes só é percebido quando temos nelas algum problema. Um simples corte num dedo, que arde com água, pode ilustrar esse fato.

Além da evidente importância da coordenação motora, utilizada para tudo, toda e qualquer sensibilidade do nosso corpo, mesmo no mínimo dedo – ou no dedo mínimo – é extremamente valiosa para nossa existência.

* Dependendo da fonte, o problema pode ser chamado de neuropatia do nervo ulnar ou síndrome do túnel cubital. Neste texto, decidimos utilizar como padrão “neurite ulnar”, para fins de clareza e estilística.

 

Fontes:
https://www.tudosobreombro.com
https://www.saudebemestar.pt
https://www.tuasaude.com/nervo-ulnar
https://pebmed.com.br[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]