Conheça um pouco sobre essa iniciativa a favor da saúde mental

Basta dar uma olhada pelo retrovisor na história da humanidade – aquela que muita gente escreve com H maiúsculo – e verá uma constatação quase inevitável que, desde que existimos, nunca houve sequer 1 ano de paz total na Terra. Somos, quase a rigor, uma espécie que se mata regularmente. E a autodestruição mútua e praticamente constante não parece ser uma forma muito inteligente de ocupar o tempo de existência que temos. Falando mais informalmente, parece que o ser humano não é mesmo “muito bom da bola”.

Essa caracterização informal, talvez hoje proscrita pelo que se chama movimento “anticapacitista”, esconde uma ideia bastante grave: parece que somos uma espécie inclinada à loucura (palavra que o referido movimento, com alguma razão, reprova como xingamento, mas que certamente está longe de ser uma coisa desejável). Ou haveria outra explicação para desenvolver um poder bélico capaz de destruir algumas centenas de vezes toda a vida humana no planeta? Sim, ainda somos capazes disso, e há uma guerra relativamente recente em pleno andamento para nos lembrar.

Além dessa inclinação destrutiva bastante evidente em termos históricos e globais – da qual não podemos esquecer, mas com que não podemos nos ocupar o tempo todo – temos de lidar, cada um a seu modo, com nossos problemas mais diretos e pessoais. Pode parecer que não, mas o cenário global se reflete sobre nosso cotidiano, seja política e economicamente (fatores sempre ligados), seja em termos de intoxicação informativa ou pelo simples temor de que uma fatalidade nos atinja, ou a quem amamos.

Adicione a tudo isso a imensa caixa de ressonância – inclusive de intolerância e agressão – que são as redes sociais digitais e fica claro que manter a saúde mental é tarefa e exercício para toda uma vida. Diga-se de passagem que, obviamente, há imensas e ainda, em boa parte, desconhecidas vantagens e possibilidades geradas pelas plataformas e ferramentas digitais, mas já se sabe, com bastante fundamentação, que elas também podem fazer mal. Não são (como quase nada é) inócuas. Seu uso excessivo é psicologicamente nocivo.

Nessa intrincada trama de coisas que, listadas assim, todas juntas, parecem compor um cenário bem pessimista, é mais que bem-vinda uma iniciativa que busque, digamos, oxigenar mentalmente as pessoas. Embora algumas causas relacionadas à saúde mental já tenham seus meses de ênfase respectivos – mal de Alzheimer no Fevereiro Roxo, depressão/prevenção ao suicídio no Setembro Amarelo, entre outros – desde 2014 existe o que se chama de Janeiro Branco, que se autocaracteriza como “um movimento social dedicado à construção de uma cultura da Saúde Mental na humanidade”.

Criado e coordenado pelo instituto homônimo, o Janeiro Branco tem como objetivo chamar a atenção de indivíduos, instituições, sociedades e autoridades para as necessidades relacionadas a todos os fatores que possam afetar a saúde mental dos seres humanos – para o mal e para o bem. Sobre o que pode ser negativo, conscientização e orientação. Sobre o que pode ser positivo, estímulo e engajamento. Para tanto, são contemplados temas bastante abrangentes, num leque que inclui autoconhecimento, controle emocional, melhora das relações pessoais e de trabalho, atividade física e alimentação saudável, entre outros.

Evidentemente, uma das intenções da iniciativa é discutir políticas públicas, sem as quais dificilmente uma abordagem que busca soluções para questões de saúde mental poderia ser bem-sucedida, ou alcançar o melhor resultado possível. Mas o Janeiro Branco não parece ter qualquer vocação para se esgotar na responsabilização da esfera pública, convocando instituições privadas e, principalmente, os indivíduos a adotar uma postura ativa na promoção da causa. É de indivíduos, sabemos, que se forma a coletividade – e, portanto, é na ação individual que se avança nas grandes causas coletivas.

Claro que a saúde mental tem mais aspectos, variações e nuances do que uma só campanha, durante um único mês do ano, pode abranger. Assim, os materiais de divulgação disponíveis talvez não tenham a profundidade ideal, apenas tangenciando assuntos mais complexos que fazem parte do grande tema central. No entanto, qualquer discussão sobre saúde mental é melhor que nenhuma discussão, e a proposta tende a ser dar foco ao conceito principal para que haja exploração mais detalhada, e contínua, em ações consecutivas.

Segundo o próprio site da campanha, sob seu guarda-chuva são desenvolvidas diversas ações, como palestras, oficinas, cursos, workshops, entrevistas e lives, entre outras, em qualquer lugar onde haja pessoas interessadas, em qualquer ponto do Brasil. Pelo mesmo site, organizações e instituições públicas e privadas – assim como qualquer pessoa – podem entrar em contato com o instituto responsável pela campanha, para solicitar esclarecimentos, apoio e orientação.

Neste ano de 2023, o Janeiro Branco chega à sua 10ª edição com o tema “A Vida Pede Equilíbrio”. Um dos enunciados divulgados pelo site descreve assim as circunstâncias que geram essa demanda:

“… mudanças cada vez mais desafiadoras e aceleradas que exigem novas atitudes, novas habilidades, novos entendimentos e novos comportamentos”.

Voluntariamente ou não, é uma descrição um tanto genérica – o que não significa que seja menos verdadeira. Talvez, de modo até irônico, o elemento mais valioso contido nessa declaração seja exatamente o fato de que, frente à crescente angústia de cada vez mais gente, no mundo todo, atualmente é praticamente impossível discordar dela.

Para saber mais sobre a campanha Janeiro Branco, visite o site: https://janeirobranco.com.br