Ainda estamos em pandemia.

Entre os assim chamados “divulgadores de ciência” estão várias figuras claramente alarmistas-pessimistas. Alguns deles, alçados a uma celebridade inesperada por causa da pandemia, parecem ter como objetivo destacar sempre tudo que pode dar errado, ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, afirmam e reafirmam que “ainda sabemos muito pouco sobre esse vírus”.

Caberia a questão: se sabemos tão pouco, por que projetar sempre os piores cenários? Princípio da precaução? Manutenção da visibilidade?  Mesmo quando esses personagens se baseiam em fatos e ciência confiáveis para fazer seus alertas inadiáveis, há que se perguntar se o tom de urgência e catástrofe é produtivo ou contraproducente.  Muitas vezes, soa quase como uma torcida pelo vírus…

Do outro lado do espectro, numa atitude tão ou mais perigosa, há pessoas de todos os tipos, formadores de opinião ou não, que já decretam “o fim da pandemia”. É uma irresponsabilidade, para qualquer um, assumir isso – ainda que se possa torcer para que a “previsão” esteja certa. A irresponsabilidade tem como motivo um nome com que quase todo mundo adquiriu familiaridade: ômicron.

A alta transmissibilidade da variante e o fato comprovado de que tem capacidade de infectar mesmo quem completou o esquema vacinal não deixam muita escapatória: ainda que, aparentemente, provoque quadros menos graves (e não se sabe, com certeza, se isso é inerente à variante ou pode ser creditado às vacinas), a contaminação em progressão geométrica muito provavelmente vai resultar em muitas mortes. Como já dissemos aqui, 1% de um número muito alto pode ser uma porcentagem baixa, mas significa muita gente.

No momento, todos temos de despertar em nós mesmos a tão citada resiliência, e continuar tomando todos os cuidados que tomávamos antes do enfraquecimento da pandemia, prévio ao surgimento da ômicron: distanciamento social, uso de máscaras, higiene das mãos, isolamento completo em caso de teste positivo ou contato com alguém comprovadamente contaminado – em ambos os casos, independente de haver ou não sintomas.

É uma esperança plausível que uma variante que contamina mais e mata menos acabe fazendo com que a maioria das pessoas desenvolva imunidade contra o novo coronavírus, tornando a covid-19 uma doença endêmica, como a gripe comum (infuenza), com a qual convivemos sem alarde e que não tem o mesmo impacto sobre nossas vidas, rotinas e as atividades econômicas. Mas, no momento, essa possibilidade é apenas isso: uma esperança.

Sim, podemos abraçar essa esperança e torcer por ela, mas não tê-la como crença cega ou estabelecê-la como parâmetro racional de comportamento diante de uma doença potencialmente letal. Por mais algum tempo, que ninguém sabe exatamente quanto, a atitude mais segura e responsável é continuarmos nos cuidando: cada um de si mesmo e, ao mesmo tempo, do outro, já que o mal que todos enfrentamos pode ser transmitido pelo ar.

Portanto, até que haja evidências consistentes em contrário, seja resiliente, responsável e continue adotando os mesmos cuidados recomendados ao longo de toda essa longa emergência sanitária. Juntos, cedo ou tarde, conseguiremos superá-la. Estamos na maioria bastante cansados e muitos de nós estão esperançosos, mas a única certeza é que ainda estamos, todos, numa pandemia.