Desmistificando o mito: flúor na água não compromete o QI.
A fluoretação da água potável é uma prática consolidada na saúde pública, especialmente no Brasil, onde é obrigatória por lei desde 1974 (Lei nº 6.050). Apesar de seus benefícios amplamente reconhecidos na redução de cáries dentárias, persistem alegações de que o flúor poderia prejudicar o quociente de inteligência (QI). Este artigo refuta esse mito com base em evidências científicas, cruzando dados históricos sobre a fluoretação no Brasil e a evolução do QI, enquanto considera, sem endossar, as alegações contrárias.
O início da fluoretação no brasil: um marco histórico
No Brasil, a fluoretação começou em 1953, em Baixo Guandu (ES), sendo a primeira cidade a adotar a prática. Em 1974, a Lei Federal nº 6.050 tornou-a obrigatória em sistemas de abastecimento com estações de tratamento, regulamentada em 1975 pela Portaria nº 635. Hoje, cerca de 76% da população brasileira tem acesso à água fluoretada, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008, com níveis ajustados entre 0,6 e 0,8 mg/L, conforme a temperatura local (Portaria nº 2.914/2011). No estado de São Paulo, por exemplo, a cobertura atingiu 84,7% dos municípios em 2009, beneficiando 85,1% da população total.
O impacto na saúde bucal é evidente. O índice CPO-D (dentes cariados, perdidos e obturados) em crianças de 12 anos caiu de 6,5 em 1986 para 2,1 em 2010, segundo levantamentos do Ministério da Saúde, inserindo o Brasil no grupo de países com baixa prevalência de cárie. Esse declínio coincide com a expansão da fluoretação, reforçando sua eficácia.
A evolução do QI: o efeito Flynn no brasil e no mundo
Globalmente, o QI médio tem aumentado desde o início do século XX, um fenômeno conhecido como Efeito Flynn. Nos EUA, onde a fluoretação começou em 1945, o QI subiu de cerca de 70 em 1900 para 100 hoje, a uma taxa de 3 pontos por década. No Brasil, embora dados históricos sejam menos abrangentes, estudos como o de Colom et al. (2007) indicam um aumento semelhante entre populações urbanas entre as décadas de 1930 e 2000, com ganhos estimados entre 20 e 30 pontos. Um levantamento em São Paulo, entre 1932 e 2002, mostrou um incremento de 2,7 pontos por década em testes de QI.
Esse aumento ocorreu em paralelo à expansão da fluoretação no Brasil, que passou de poucas cidades nos anos 1950 a mais de 70% dos municípios com mais de 50 mil habitantes em 2008. Se o flúor tivesse um efeito negativo significativo no QI, seria razoável esperar uma estagnação ou queda nas pontuações, especialmente após 1974. Contudo, os dados apontam o contrário, sugerindo que a fluoretação não compromete a inteligência.
As alegações contrárias: uma visão crítica
Os críticos da fluoretação frequentemente citam estudos como a meta-análise de Choi et al. (2012), que associou altos níveis de flúor (média de 4 mg/L) a uma redução média de 7 pontos no QI em crianças de áreas rurais da China. Outros apontam para a fluorose, sugerindo que o flúor em excesso poderia ser neurotóxico. No Brasil, o Projeto de Lei 6359/2013, do deputado Carlos Bezerra, propôs revogar a obrigatoriedade da fluoretação, argumentando que ela seria "economicamente injustificável" e que seus efeitos seriam mais tópicos do que sistêmicos.
No entanto, esses argumentos têm fragilidades. O estudo de Choi analisou níveis de flúor muito acima dos 0,7 mg/L recomendados no Brasil, e seus autores destacaram limitações como falta de controle para variáveis como pobreza e nutrição. No contexto brasileiro, pesquisas como a de Broadbent et al. (2014), na Nova Zelândia, com níveis similares aos nossos, não encontraram diferenças no QI entre grupos expostos e não expostos à água fluoretada. Além disso, a vigilância sanitária no Brasil, como o programa Vigiagua, monitora os teores de flúor para evitar excessos, com 50,94% das amostras de 40 municípios paulistas entre 2004 e 2016 dentro do intervalo ideal (0,55-0,84 mg/L).
Por que o mito persiste no brasil?
A desinformação é um fator chave. No Brasil, a fluoretação foi alvo de teorias conspiratórias desde os anos 1970, muitas vezes associada a interesses externos ou riscos infundados. A percepção pública também é influenciada por confusões, como a registrada na 13ª Conferência Nacional de Saúde (2007), onde delegados confundiram fluoretação com cloração. A falta de acesso a dados transparentes sobre os teores de flúor na água, somada à disseminação de estudos mal interpretados nas redes sociais, perpetua o mito.
Fatores socioeconômicos também entram em jogo. Regiões menos desenvolvidas, como o Nordeste, onde a cobertura de fluoretação é menor (e.g., Pernambuco não fluoreta suas águas atualmente), apresentam maior prevalência de cárie e, coincidentemente, piores indicadores educacionais. Isso pode alimentar correlações espúrias entre flúor e QI, quando, na verdade, a pobreza e a falta de educação são os verdadeiros determinantes.
Conclusão: evidências sólidas, mitos frágeis
No Brasil, a fluoretação da água reduziu significativamente a cárie dentária, com o índice CPO-D caindo mais de 67% entre 1986 e 2010, enquanto o QI médio subiu, acompanhando o Efeito Flynn. Estudos robustos não encontram relação entre os níveis controlados de flúor (0,7 mg/L) e declínio cognitivo. As alegações contrárias, embora dignas de atenção, baseiam-se em cenários de exposição extrema ou carecem de evidências aplicáveis ao contexto brasileiro. A ciência respalda a segurança e os benefícios da fluoretação, desde que bem monitorada, desmentindo o mito de que ela compromete o QI.
Fontes
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1970-1979/l6050.htm
www.bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1975/prt0635_26_12_1975.html
www.bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2914_12_12_2011.html
www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saneamento/9029-pesquisa-nacional-de-saneamento-basico.html
www.bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/sb_brasil_2010.pdf
www.cdc.gov/fluoridation/index.html
www.ehp.niehs.nih.gov/doi/10.1289/ehp.1104912
www.ajph.aphapublications.org/doi/10.2105/ajph.2013.301857
www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/s0191886906003158
www.camara.leg.br/proposicoesweb/fichadetramitacao?idproposicao=597532
www.saude.gov.br/vigilancia-em-saude/vigilancia-ambiental/vigiagua
www.conselho.saude.gov.br/13conferencia/index.html
Saúde mental no trabalho: desafios e soluções.
O Brasil vive uma crise de saúde mental sem precedentes, especialmente no ambiente de trabalho. Em 2024, o país registrou um recorde histórico de 472.328 afastamentos por transtornos mentais, o maior número em 10 anos, conforme dados do Ministério da Previdência Social. Esse aumento de 68% em relação a 2023 reflete não apenas as sequelas da pandemia de Covid-19, mas também condições do mercado de trabalho e eventos traumáticos regionais, como as enchentes no Rio Grande do Sul. Ansiedade e depressão lideram as causas, evidenciando a urgência de medidas eficazes para proteger o bem-estar psicológico dos trabalhadores.
Quem está sendo afetado?
Os números revelam um padrão preocupante: 64% dos afastamentos são de mulheres, com idade média de 41 anos, muitas enfrentando quadros graves de ansiedade e depressão. Regiões como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro concentram a maioria dos casos, enquanto estados como Distrito Federal, Santa Catarina e Rio Grande do Sul lideram proporcionalmente.
Uma das causas, como dissemos, é a pandemia, que deixou marcas profundas, com mais de 700 mil mortes no Brasil e uma reconfiguração abrupta das rotinas de trabalho. Estudos apontam que o isolamento, a insegurança financeira e a sobrecarga de tarefas intensificaram problemas pré-existentes.
No Sul, as enchentes de 2024 agravaram significativamente o cenário, com trabalhadores lidando com perdas materiais e emocionais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), transtornos mentais custam globalmente US$ 1 trilhão por ano em produtividade perdida, e o Brasil não está imune a esse impacto econômico e social.
Motivos do crescimento alarmante
Além dos fatores já citados, especialistas no tema destacam uma combinação de fatores para o boom de afastamentos:
• Ambientes de trabalho tóxicos, onde a pressão por resultados, o assédio moral e as longas jornadas são gatilhos comuns.
• “Precarização” do trabalho, uma vez que a informalidade e a mudança nos direitos trabalhistas, intensificadas desde a reforma de 2017, afetam a estabilidade emocional (mesmo com a discussão sobre se o modelo CLT é adequado a uma economia moderna em pleno andamento).
• Maior conscientização - a naturalização do debate sobre saúde mental tem levado mais pessoas a buscar diagnóstico e direitos, como o auxílio-doença do INSS.
Um estudo da Fiocruz revelou que 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem de síndrome de burnout, colocando o país como o segundo no ranking mundial, atrás apenas do Japão. Esse esgotamento profissional, aliado a outros transtornos, reflete uma crise que pode ser considerada estrutural.
Iniciativas corporativas e institucionais: um passo adiante
Empresas começam a reagir à crise. Uma grande companhia de seguros, por exemplo, após notar o aumento de atestados por motivos psicológicos, implementou programas de apoio psicológico, benefícios de bem-estar e orientação financeira. Resultados mostram redução de afastamentos e melhoria no clima organizacional. Outras organizações seguem o mesmo caminho, oferecendo sessões de terapia online e políticas de flexibilidade.
Além disso, a partir de maio de 2025, a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) entra em vigor com atualizações que obrigam empresas a identificar e gerenciar riscos psicossociais, como estresse e assédio. Multas serão aplicadas às que descumprirem, forçando uma mudança cultural no trato da saúde mental no trabalho. A medida é vista como um marco para alinhar o Brasil a padrões internacionais de bem-estar laboral.
Rumo a um futuro mais saudável?
O inação tem custos: a crise não afeta apenas os trabalhadores, mas também a economia. A perda de produtividade e os gastos com afastamentos sobrecarregam o sistema previdenciário e as empresas. Sem intervenção, o problema pode se agravar com o envelhecimento da população e a persistência de condições adversas. Portanto, é mais estrategicamente econômico agir. Alguns bons caminhos para a mudança incluem:
• Prevenção nas empresas, com investimento em treinamentos, redução de carga horária e ambientes acolhedores.
• Políticas públicas para ampliar o acesso a serviços de saúde mental no SUS e integrar cuidados psicossociais às redes comunitárias.
• Educação e conscientização, envolvendo campanhas para reduzir o estigma e incentivar a busca por ajuda.
Um chamado à ação coletiva
A crise de saúde mental no trabalho é um reflexo de uma sociedade em transformação, marcada por traumas coletivos e desafios estruturais. Os números alarmantes são também uma oportunidade para repensar o papel do trabalho na vida das pessoas. Com a nova NR-1 e iniciativas corporativas, o Brasil dá os primeiros passos rumo a um futuro onde o trabalho não seja sinônimo de adoecimento, mas de equilíbrio. Cabe a todos - empresas, governo e sociedade - transformar esse diagnóstico em ações concretas.
Várias soluções do portfólio da SICCS endereçam essas questões, auxiliando pessoas e empresas a lidar com os efeitos individuais, empresariais e corporativos do comprometimento da saúde laboral. O melhor que uma corretora de primeira linha pode fazer para ajudar o trabalhador brasileiro a ter mais saúde e qualidade de vida é continuar a oferecer, com excelência, aquilo que é a essência de seu trabalho: proteção e segurança.