Já deve ter acontecido com você: na TV, no rádio, na Internet, uma pessoa dá uma entrevista e parece saber tudo que há para se saber na área em que atua – talvez, a sua área. Ela parece um prodígio de informação, conhecimento e memória. E você fica se sentindo, digamos, insuficiente: “Eu precisaria estudar muitos anos ainda, ou investir muito dinheiro, para saber tudo isso. Nunca vou chegar lá!”.
O fenômeno é ainda mais frequente quando a pauta são as áreas mais badaladas das empresas, como as que decidem estratégias de negócios, adoção de novas tecnologias, campanhas de comunicação e, mais recentemente, políticas de diversidade e inclusão. Respostas rápidas, convicções inabaláveis, números na ponta da língua. Uma visão geral e global sobre tudo que “realmente” interessa. Nenhuma pergunta fica sem resposta.
Supercompetente, superinformado e infalível, esse profissional é um mito. Talvez seja obra do acaso, talvez da consciência de quanto a exposição pública pode ser comprometedora, talvez um estereótipo cuidadosamente cultivado pela mídia (em todas as suas infinitas plataformas). Mas esse gênio/guru, quase sempre, não existe. E com frequência só serve pra minar a autoestima da audiência.
Grande parte das vezes, a pauta é combinada, enviada previamente para o entrevistado, quando não as próprias perguntas. Ele fica sabendo, antes, o que será perguntado. Aí, faz a lição de casa. Como precisa fazer parecer que entende de tudo, então age como um adolescente que estuda para a prova na véspera.
Outro resultado nefasto dessa competência mítica: se todo mundo sabe tudo, ninguém precisa aprender nada. A “vergonha” de não saber algo, qualquer coisa, pode contaminar as salas de reuniões. Ali, todo mundo fala, todos detêm alguma informação preciosíssima, atualizada agora há pouco, sobre uma questão crucial, mortal, mortífera, essencial para o negócio. Até que alguém – essa, sim, normalmente uma pessoa brilhante – começa a fazer perguntas fora da pauta. Aí, começa a síndrome do “veja bem…” e das respostas vagas.
Em vez de partir do pressuposto da onisciência, a melhor postura é esforçar-se, estudar, cultivar talento e competência, acumular o máximo de conhecimento possível – mas ter humildade para acreditar que sempre há algo a acrescentar. E, claro, não se intimidar com o falso brilho das estrelas fabricadas.
Porque ninguém é assim, tão genial, tão sábio, tão completo. Ao contrário, saber ouvir o outro é classicamente reconhecido como uma característica da verdadeira sabedoria, pois que é a única forma de acessar conhecimentos que ainda não se têm e ver as coisas de outra perspectiva. Ou de várias…
Procure por pessoas assim, competentes, mas abertas, quando for decidir questões importantes da sua vida – como na hora de escolher sua corretora de seguros.