Uma das especialidades do mundo corporativo é criar nomes novos para ideias e conceitos já conhecidos, vários deles clássicos – e até alguns bem antigos. Um exemplo folclórico foi quando, nos anos 1990, o famosíssimo “corte de pessoal” chegou à cena empresarial brasileira como o “sofisticado” e um tanto esnobe nome de “downsizing” (diminuir o tamanho, em tradução livre).

Temido por alguns e ridicularizado por outros (principalmente parte da mídia especializada), o termo não teve sucesso em dourar a pílula para enganar os trabalhadores – pode-se inferir, com boa chance de acerto, que um pensamento comum era algo próximo do seguinte: “Vai ter downsizing? Posso perder meu emprego!”.

É possível argumentar que “downsizing” ia (vai?) além da redução de colaboradores, que diminuir equipes seria (é?) medida adotada apenas se necessário, que o conceito todo envolve elaborada estratégia corporativa para combater o gigantismo empresarial, dando às companhias o tamanho real que elas precisam para ser economicamente sustentáveis. Pode até ser…

Mas, na prática, desligar parte significativa dos colaboradores sempre foi a premissa. Basta tentar lembrar ou mesmo encontrar via Google o nome de uma única empresa “downsized” que não tenha demitido. Evidentemente, dada a relevância de tal providência, “cortar para menos” e “demitir” tornaram-se sinônimos na linguagem mais simples e pragmática (provavelmente mais sábia) de quem pega no pesado. Na ponta de baixo, o rebuscamento do discurso tende a ser traduzido em termos mais realistas.

Assim foi e ainda é com expressões como “cumprir metas” (o velho e bom “vender mais”), engajamento (“vestir a camisa”) e mesmo o já consolidado “colaborador” – substituto eufemístico para a algo bela palavra “funcionário” (aquele que tem uma função) – adotada na ingênua esperança de transmitir a ideia de que o empregado “colabora” por boa vontade (o que pode até ser verdade), e não exerce uma função porque precisa do salário para sobreviver (fato inquestionável).

Agora vem chegando ao Brasil uma relativa novidade chamada de “EX”, em paralelo com “CX”, que já não é um nome muito aderente à realidade brasileira. O “X” de uns tempos para cá passou a ser uma espécie de abreviação “cool” para “experience”: assim, como CX é “customer experience” (experiência do cliente/consumidor), EX seria “employee experience” (experiência do colaborador).

Teoricamente, a empresa que “investe” em EX está adotando uma metodologia que usa o mapeamento da “jornada do colaborador” (também uma analogia com a “jornada do cliente”) para “colocá-lo em outro patamar de importância”, identificando melhor seu perfil e potencializando suas possibilidades de desenvolvimento. Qualquer semelhança com uma boa “gestão de pessoal” ou um bom “plano de carreira” não é mera coincidência. A conferir…

Que conceitos corporativos sejam ampliados e aperfeiçoados ao longo do tempo é bom e desejável. Mesmo a criação de novos conceitos consistentes, gerados por pesquisa acadêmica e pela prática de mercado, é potencialmente benéfica para a evolução do ambiente de negócios. Mas o mero ato de rebatizar fundamentos do empreendedorismo, da economia e da administração, ornamentando-os com vocabulário rebuscado, raciocínios tortuosos e um pretenso verniz de sofisticação soa falso e forçado: como um engodo.

Na maioria das vezes, essa prestidigitação conceitual serve para vender livros e palestras, com pouca ou nenhuma aplicabilidade no dia a dia. E pode até ter efeito contrário na relação com o público interno, sábio na hora de defender seus interesses: “Esse sujeito pensa que me engana com essas palavras bonitas? Quero mesmo é saber claramente como isso me afeta, beneficia ou prejudica”. Tradução: em vez de contorcionismos verbo-narrativos, melhor um “papo reto”.

Na prática, o colaborador (funcionário!) quase sempre sabe muito bem o que você quer dizer.

Fontes
https://www.dicionariofinanceiro.com
https://6minutos.uol.com.br/carreira
https://www.amcham.com.br/noticias