O surto de gripe fora de época está fazendo muita gente correr para postos de saúde e clínicas particulares a fim de se imunizar contra mais esse vírus, que embora seja menos perigoso que o da Covid-19 nunca pode ser subestimado: crianças, idosos, grávidas e pessoas com condições preexistentes podem desenvolver quadros mais graves, às vezes com risco de morte.

Acontece que, diferente do novo coronavírus – uma novidade em termos epidemiológicos – o vírus influenza, causador da gripe, já é nosso velho conhecido e obedece a um certo padrão sazonal. Altamente mutável, todos os anos ele exige que as vacinas sejam adaptadas para que a imunização seja eficiente. E, nesse caso, o Brasil leva vantagem.

Como os casos provocados pelas novas cepas costumam começar no Hemisfério Norte e nosso país está no Hemisfério Sul, em região tropical, o intervalo de alguns meses até que a doença chegue com força por aqui é suficiente para que se desenvolvam vacinas eficientes para o “vírus da vez”, ou seja, a cepa do ano corrente. E é essa vacina que é disponibilizada gratuitamente no SUS, durante uma campanha de vacinação anual com começo meio e fim, que em 2021 já terminou.

E por que o surto que algumas regiões do Brasil vivem agora é fora de época? Porque estamos na estação mais quente, o normal é que ele aconteça nas nossas estações mais frias, e estima-se que os cuidados para evitar a transmissão da Covid-19 (uso de máscaras, distanciamento, higienização das mãos etc.) tenham evitado também, no período típico de 2021, o surto provocado pela cepa surgida no ano passado, para o qual as vacinas hoje disponíveis são eficazes.

Ou seja, os casos de gripe que poderiam ser evitados pelas vacinas da campanha de 2021 não aconteceram no número usual porque, ao se proteger com as medidas indicadas contra a Covid-19, as pessoas acabaram se protegendo contra o vírus influenza, e agora que os cuidados relaxaram, porque a pandemia perdeu intensidade no Brasil, ficaram expostas ao vírus da gripe do ano que vem, para o qual ainda não temos vacinas eficazes.

Isso significa que é inútil tomar as vacinas antigripe já disponíveis? Não necessariamente. É provável que as duas cepas ainda estejam atuando simultaneamente em território brasileiro. Mas tomar a vacina da campanha de 2021 – que já terminou e por isso não é mais gratuita – não deve evitar que a pessoa se contamine com a cepa que está chegando, para a qual a vacinação será daqui a alguns meses (porque as vacinas estão em desenvolvimento).

Como todos sabem e vêm vivenciando há praticamente 2 anos, a pandemia mudou o curso de muitas coisas, “bagunçando” até o que se pode chamar de calendário epidemiológico, que orienta ações de saúde pública. Mas há uma informação útil e altamente aproveitável nesse quadro: para quem quiser evitar contrair a gripe que está provocando o atual surto, a melhor linha de ação para se precaver é manter as mesmíssimas medidas não farmacológicas recomendadas contra a Covid-19: distanciamento social, higienização das mãos, uso de máscaras (sim, mais um pouco).

Como a pandemia ainda não acabou e o perigo da variante ômicron ainda está sendo entendido, esse jeito responsável de agir acaba protegendo quem o praticar do risco de duas doenças que estão acontecendo simulteaneamente e têm muitos sintomas parecidos.

As mesmas medidas, contra 2 inimigos: qualquer pessoa há de concordar que se trata de uma estratégia com excelente custo-benefício.

 

Fontes
https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude
https://vejasp.abril.com.br/saude
https://g1.globo.com/saude