O Brasil é mundialmente conhecido por ter uma das maiores coberturas vacinais do planeta, sendo o Programa Nacional de Imunizações (PNI) uma referência global de excelência quando se trata de saúde pública. Mesmo continuando a ser um caso de sucesso, as taxas de vacinação no país vêm caindo desde 2015.

Profissionais da área estimam que isso está acontecendo por diversos motivos: desinformação, falta de divulgação/campanhas e até mesmo o horário relativamente limitado de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde (UBS), entre outros.

Mais recentemente, teorias conspiratórias sobre vacinas – sem qualquer lógica, fundamentação ou evidências – ganharam certa repercussão na opinião pública brasileira. Mas, enquanto em relação à vacina contra a covid-19 era compreensível algum receio, pelo fato de serem novas e desenvolvidas em tempo recorde, o assim chamado “movimento antivacinal” lança suspeitas também sobre imunizantes com décadas de aplicação bem-sucedida.

Isso não faz sentido e é contraproducente: se no passado o ser humano vivia em média algo como 30-35 anos e hoje vive 70-75 ou mais em diversos países, isso se deve ao avanço do conhecimento e dos cuidados com a saúde, aí incluída a imunização contra doenças que antes matavam aos milhões. Quase ninguém com algum conhecimento de história, ou em sã consciência, dúvida disso.

E mesmo os temores despertados pelas vacinas contra a covid-19 parecem ter sido vencidos aos poucos, à medida que as curvas de vacinação e mortes pela doença foram se mostrando inversamente proporcionais e os casos de efeitos colaterais bem documentados se mostraram raríssimos (diga-se de passagem, que eles ocorrem com todas as vacinas, que, como tudo, não têm risco zero).

Nesse cenário de cobertura vacinal um tanto descendente, a notícia de que um surto de meningite meningocócica C – a mais frequente entre as meningites bacterianas – atingiu a Zona Leste da cidade de São Paulo, nos dois primeiros meses do 2º semestre, deixou muita gente preocupada, gerando um aumento de procura pela vacina, que chegou a faltar em algumas UBS.

Quem tem aí por volta de seus 40-45 anos ou mais provavelmente se lembra da epidemia de meningite da década de 1970, também em São Paulo – a pior epidemia da doença na história do país. Na época, houve casos de 2 tipos de meningite meningocócica, A e C, ambas bacterianas. Para quem traz essa fase na memória deve ser mais difícil não se preocupar, inclusive pessoas que moram fora de São Paulo, já que hoje o trânsito de pessoas entre cidades e estados é muito maior. Sem falar que notícias sobre casos de meningite sempre assustam.

No entanto, em relação ao surto de 2022, os especialistas em saúde afirmam que não há necessidade de pânico. Primeiro, vale explicar o conceito de “surto”: é a ocorrência de 3 ou mais casos do mesmo tipo, na mesma localidade, em um prazo de 90 dias (ou seja, não envolve necessariamente um grande número de casos). Segundo, é bom que se saiba que o meningococo tem caráter endêmico, o que significa que os casos acontecem regularmente, a imensa maioria deles entre crianças e adolescentes, que já devem se imunizar de acordo com o Calendário Nacional de Vacinação.

Em outras palavras, casos de meningite bacteriana não são raros, embora possam evoluir com rapidez para quadros graves, e até mesmo fatais, em questão de horas. A doença ataca as meninges, membranas que envolvem e protegem o encéfalo, a medula espinhal e outras partes do sistema nervoso, e é transmitida pelo ar, pelo contato com secreções das vias áreas.

No surto ocorrido neste ano em São Paulo, as autoridades seguiram corretamente o que recomendam os protocolos sanitários, realizando a chamada vacinação de bloqueio, uma ampliação da faixa etária do público-alvo que deve receber o imunizante. Foram vacinados mais de 30 mil moradores, estudantes e trabalhadores, entre 3 meses e 64 anos de idade, num perímetro de 3km da região em que foram localizados os casos.

Em suma, com exceção dos residentes e frequentadores da área, crianças e adolescentes devem se vacinar normalmente segundo o Calendário Nacional de Imunização e não há recomendação de estender a vacinação para todos os adultos, de toda a cidade. Importante lembrar: pessoas imunocomprometidas e profissionais de saúde entram num esquema de vacinação especial.

Uma observação final: embora não haja necessidade de alarme, isso não significa que não seja importante estar alerta. Doenças infecciosas, ainda mais as que podem evoluir gravemente, precisam ser continuamente combatidas com informação confiável e olhar atento. Os sinais e sintomas de meningite variam conforme a idade, mas quase sempre envolvem febre, sonolência, vômito, dor de cabeça e a já bastante divulgada rigidez na nuca – entre outros.  Em casos suspeitos, recomenda-se procurar um serviço de saúde imediatamente.

 

Fontes
www.drauziovarella.uol.com.br
www.tuasaude.com/vacina-da-meningite
www.saude.mg.gov.br/meningite