HOME-OFFICE DÓI?
Dores nas mãos, nos braços, nos ombros, no pescoço: profissionais de saúde têm constatado um número crescente de pessoas com essas queixas desde… o início da pandemia. Estima-se que esses sintomas são resultado direto da postura inadequada e do excesso de tempo em frente a telas e teclados, consequência da mudança emergencial para o home-office sem cuidados com a ergonomia.
Boa parte – talvez a maioria – dos profissionais que precisaram repentinamente migrar para o home-office não tiveram tempo e recursos para se preparar de forma adequada, fazendo as adequações necessárias no “novo” ambiente de trabalho, que além de tudo também se tornou híbrido com o ambiente doméstico, com todas as facilidades e interferências que isso pode trazer.
Alguns empregadores até contribuíram para aquisição de equipamentos, como cadeiras ergonômicas, mas casos assim foram, e parecem continuar sendo, raros. Só que a ergonomia não pode ser subestimada, nem para a saúde do profissional, nem para a produtividade da empresa para a qual ele trabalha. Além do inerente componente humano (outro elemento ainda relativamente raro no mundo corporativo), já é bem sabido, há décadas, que saúde, bem-estar e desempenho estão intimamente relacionados.
Um exemplo, simples e clássico: o recomendado é que o centro da tela fique na altura dos olhos, mas como a maior parte das pessoas utiliza notebooks, sem qualquer adaptação, o monitor acaba ficando bem abaixo do ideal, fazendo que o pescoço permaneça dobrado para a frente e sobrecarregando a coluna cervical.
Como a “improvisação” se estendendo já há mais de 1 ano (o que soa como algo, de fato, permanente), os problemas relacionados à inadequação ergonômica começaram a aparecer com frequência cada vez maior: em mais gente, de mais empresas, por mais tempo. E nem falamos aqui da queda drástica no nível de atividade física…
Não parece mais adequado esperar o retorno à normalidade do trabalho presencial, que pode não acontecer tão cedo, ou, para algumas empresas, nem acontecer – já que muitas podem olhar exclusivamente para a redução de custos (menos escritórios e gastos com deslocamento e alimentação da equipe), numa atitude imediatista e predatória que acaba afetando seus próprios resultados a médio e longo prazo.
É preciso que profissionais e empregadores saibam, e aceitem: nosso corpo é, entre outras coisas, um complexo conjunto de forças musculares e fenômenos sensoriais uma mudança, na ação de um só músculo, resulta na reorganização inevitável de todo esse conjunto, para o bem ou para o mal. Perceber e tratar com cuidado da postura que assumimos quando trabalhamos é um dos aspectos mais profundos e essenciais da experiência humana.
Fontes:
https://www.brasilmedicinaocupacional.com.br
https://6minutos.uol.com.br
Ter depressão não é o mesmo que estar deprimido.
Já vimos que o isolamento social imposto pela pandemia tem tido efeitos preocupantes sobre a saúde das pessoas, inclusive a saúde mental. Quadros como bruxismo – abordado em artigo anterior – insônia e depressão vêm aumentando significativamente na população brasileira.
Embora existam números, a contabilidade real de quanto esses quadros aumentaram será feita por estudiosos e estatísticos nos próximos anos. É preciso ter certa distância temporal para ver um cenário tão novo com clareza. Mas a percepção de especialistas da área de saúde mental, consolidada em inúmeras entrevistas e matérias jornalísticas, já constitui um indício bastante confiável.
A atualidade do tema é um bom motivo para fazer uma distinção necessária entre o uso popular da palavra “depressão” (como em “bateu uma deprê” ou “estou deprimido”) e a definição médica desse mal. A tristeza ou melancolia transitória, causada ou não por um evento real (como a perda de um amor, um ente querido ou um emprego), é bem diferente da depressão “doença”, um estado mais persistente, profundo e debilitante, que pode comprometer severamente vários aspectos da vida da pessoa.
Embora se saiba que certamente há um componente genético, existem grandes debates, particularmente nas áreas de psicologia e psiquiatria, sobre as causas da depressão. Há os que acreditam que ela acontece por um desequilíbrio químico no cérebro e há quem afirme que esse desequilíbrio não é a própria doença, mas um de seus sintomas. Parece, contudo, haver um razoável consenso de que, se a depressão se manifesta, por um motivo ou por outro esse desequilíbrio está lá – e precisa ser tratado.
Uma das dificuldades que aqueles que sofrem com a depressão ainda enfrentam é o preconceito contra a doença. Se uma pessoa tem diabetes e precisa de insulina, ou sofre de hipertensão e tem de tomar remédios para controlá-la, dificilmente alguém ficará dizendo para o paciente: “não se entregue”, “seja forte”, “reaja”. Sim, isso ainda acontece quando se trata de depressão, e no melhor dos casos é fruto de desconhecimento.
Assim como o pâncreas para o diabetes e o sistema circulatório para a hipertensão, o cérebro – onde pode-se dizer que depressão “acontece” – é um órgão. Provavelmente o mais nobre e sofisticado deles, mas ainda assim um órgão (daí organismo = conjunto de órgãos). Cuidar de um órgão doente não é algo que se pode supor que dependa de “caráter” ou “força de vontade”.
O que existe e funciona é um tratamento, que normalmente é multidisciplinar e pode envolver psicoterapia, mas certamente envolverá, para grande parte dos pacientes, medicamentos – e aqui não pode haver preconceitos (lembra-se da insulina?). Também é uma estratégia valiosa adotar uma razoável rotina diária, com “tarefas” (coisas a fazer), e muito, mas muito importante praticar atividade física. É indispensável, claro, a orientação de um psiquiatra (que não é quem cuida de loucos, mas um médico que estudou muitos anos para tratar do cérebro).
Todo o tratamento é individualizado, pensado para “equilibrar” a química do cerebral, estabilizando o nível de neurotransmissores – substâncias responsáveis pelas reações químicas que fazem o cérebro funcionar – com o objetivo de restabelecer o humor e o comportamento “normal” do paciente (como ele era antes da depressão se apresentar). Assim como o assunto, as possibilidades são vastas, e não é possível esgotá-los em 1 ou 2 blogs, por isso devemos voltar ao tema em breve.
Por enquanto, tente se lembrar: a depressão pode ter como gatilho um fato que para boa parte das pessoas traria tristeza passageira, mas para quem tem a doença acaba abrindo uma porta, uma janela de oportunidade para sua manifestação. Um bom parâmetro: uma mistura de desmotivação e tristeza que dure mais de 3 meses provavelmente não é só uma pessoa “na bad”, mas um caso de depressão. Se for com você, ou alguém próximo, tente ver como tal. Procure ajuda especializada.
Entenda como o home office pode afetar sua saúde mental.
A pandemia de covid-19 obrigou as empresas a se adaptarem a uma nova realidade, tendo o trabalho em home office como uma das principais mudanças observadas. Embora muitas empresas tenham se mostrado entusiastas do trabalho online nos meses iniciais do isolamento imposto pelo covid-19, algumas delas já planejam o retorno de parte das atividades para o modelo presencial.
O impacto que o trabalho em home office teve na saúde mental dos trabalhadores foi o tema de uma pesquisa publicada em março de 2021 no Journal of Occupational and Environmental Medicine. Foram observados um declínio na saúde física e mental dos indivíduos que responderam ao questionário online e fizeram a transição para o modelo online. Os resultados mostraram que houve uma relação entre a piora da saúde física e da saúde mental, e os principais fatores estressores encontrados foram mudanças de hábitos alimentares, dos relacionamentos sociais, problemas de comunicação com os colegas de trabalho e aumento de distrações durante o horário de trabalho. Pessoas com crianças pequenas em casa, por exemplo, relataram piora dos sintomas se comparadas com os lares que continham apenas adultos e adolescentes.
Os autores do trabalho comentam: “Existem inúmeros fatores que podem impactar positivamente na saúde dos trabalhadores que estão em home office (…) como ter um espaço dedicado para o trabalho, ter um local ergonômico, conhecimento da plataforma de trabalho…”. Infelizmente, a realidade brasileira mostra que muitos trabalhadores não têm possibilidade de seguir as recomendações citadas, o que pode levar a um aumento dos sintomas ansiosos e depressivos, como a síndrome de burnout.
É fundamental que os profissionais de saúde, líderes de equipe e gestores tenham um olhar para a saúde mental dos trabalhadores. O reconhecimento dos sinais iniciais e as estratégias de manejo são abordadas nos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu da FCMSCSP.
Fonte:
Dr. Victor Otani
Professor Instrutor – Departamento. de Saúde Mental – Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP