Como as empresas voltarão a operar no Rio Grande do Sul?

Entenda o que é um Plano de Continuidade de Negócios.

Diante da devastação que todos testemunhamos com as enchentes históricas no Rio Grande do Sul - na qual, claro, a maior perda é a de vidas e histórias pessoais - é plausível que também surja, na mente dos empreendedores, a seguinte pergunta: como as empresas que operavam na região poderão se recuperar? A resposta é mais um aprendizado que se pode tirar dessa triste tragédia.

Trata-se do que o mercado chama de Plano de Continuidade de Negócios (PCN), um documento detalhado que descreve o que, e como, uma organização deve fazer para continuar operando durante e após uma interrupção inesperada - como a catástrofe natural que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. O objetivo principal de um PCN é minimizar o impacto de desastres como esse e garantir que as operações críticas possam ser mantidas ou rapidamente retomadas.

Entre os benefícios de um bom PCN estão a resiliência organizacional (resistência que permite à empresa continuar operando), a proteção de dados (minimizando a perda e exposição de informações sensíveis), a confiança do cliente (pela demonstração de que a empresa está preparada para lidar com emergências) e a conformidade legal (porque há exigências regulamentadas de medidas de continuidade).

Veja, a seguir, alguns elementos fundamentais de um PCN:

- Análise de Impacto nos Negócios (BIA)
Identificação de funções críticas - Determina quais processos são essenciais para as operações da empresa;
Impacto de interrupções - Avalia as consequências de interrupções em diferentes áreas da empresa;
Tempo de recuperação necessário - Define quanto tempo uma função pode ficar fora do ar antes de causar impacto significativo;
Objetivos de ponto de recuperação - Especifica a quantidade máxima de dados que a empresa está disposta a perder.

- Estratégias de Recuperação
Recuperação de TI - Planos para restaurar sistemas de TI, dados e redes;
Operações alternativas - Procedimentos para mover operações para um local alternativo se o local principal for inacessível;
Comunicação - Estratégias para manter comunicação com colaboradores, clientes e fornecedores durante uma interrupção.

- Planos de Resposta a Incidentes
Procedimentos de emergência - Instruções claras sobre o que fazer imediatamente após um incidente;
Equipe de resposta a incidentes - Lista de pessoas responsáveis por executar o PCN, com detalhes de contato e responsabilidades específicas;
Protocolos de comunicação - Diretrizes sobre como e quando comunicar incidentes e atualizações para partes interessadas internas e externas.

- Testes e Manutenção
Testes regulares - Programação de testes para garantir que o plano funcione conforme esperado;
Atualizações e revisões - Processos para revisar e atualizar o plano regularmente, refletindo mudanças na organização ou no ambiente externo;
Treinamento - Programas de treinamento para colaboradores sobre suas responsabilidades no plano de continuidade.

- Documentação de Suporte
Recursos e contatos - Lista de recursos necessários, como fornecedores alternativos e contatos de emergência;
Mapas de infraestrutura - Diagramas das instalações e sistemas críticos;
Contratos e acordos - Documentos relevantes, como contratos de fornecedores de recuperação e seguros.

Vale reforçar: o PCN deve ser regularmente revisado e testado para garantir sua eficácia, pois trata-se de um instrumento vital da gestão de riscos e da resiliência organizacional, garantindo que a empresa possa superar e prosperar após eventos inesperados.

No momento oportuno, falaremos mais sobre gestão de riscos e contratação de seguros, elementos fundamentais de um PCN adequado. Mas você pode discutir esses conceitos e sua aplicação prática com nossos especialistas na hora que quiser. O melhor que se pode fazer diante de uma tragédia já consumada é aprender com ela.

 

Fontes
www.fia.com.br
www.abrasco.org.br
www.welcome.atlasgov.com
www.iso27000.com.br
www.cnnbrasil.com.br
www.portal.tcu.gov.br


Gestão de riscos: a primeira linha de defesa

O aprendizado que pode vir do Rio Grande do Sul.

“Aquecimento global” e “mudança climática” são conceitos que precisam ser considerados com seriedade, mas não aceitos ou mencionados de forma acrítica. Do modo como vêm sendo tratados por boa parte de veículos informativos e/ou formadores de opinião, ambos os termos passaram a fazer parte de uma espécie de galeria de “fatores estruturais”: algo que está sempre lá e influencia tudo que acontece na realidade, mesmo que “não pareça” ou que não saibamos explicar exatamente “como”.

Este tipo de premissa é considerado falso por intelectuais bastante respeitáveis – e, diga-se de passagem, que tudo que alguém exige que se aceite sem discussão já precisa ser visto com desconfiança por quem deseja exercer uma cidadania consciente. Assim, a tragédia que  se abateu sobre nossos irmãos brasileiros no Rio Grande do Sul pode ser considerada, sim, uma catástrofe natural, mas não uma “tragédia climática”.

Primeiro, porque a palavra “clima” se refere a fenômenos de longo prazo, não necessariamente a pontos fora da curva que acontecem em momento e contexto específicos. Segundo, porque, para que a tragédia seja racional e tecnicamente atribuída à emissão de gases resultantes da atividade humana, é preciso demonstrar a causalidade, algo que está longe de acontecer de forma madura devido ao caráter recente dos acontecimentos. Há quem diga até que o desastre era, em grande medida, previsível, mas isso é bastante diferente de saber explicar suas causas.

Porém, se há uma lição que podemos aprender agora, imediatamente, com a triste devastação que todos temos visto na televisão e na Internet diariamente, é a importância da gestão de riscos. Parece razoável dizer que certas instâncias governamentais, ao menos em certas regiões do país, precisam urgentemente conhecer e pôr em prática esse conceito, minimizando os efeitos de desastres que agora lamentam publicamente e frente aos quais soam impotentes. A seguir, exploramos o tema de mais de uma perspectiva, abrangendo as esferas pública e privada.

Importância da gestão de riscos
A gestão de riscos é essencial para identificar, avaliar e mitigar os impactos potenciais de catástrofes naturais. Este processo envolve a análise dos diversos riscos que podem afetar a comunidade e as empresas e a implementação de estratégias para minimizar esses impactos. A gestão eficaz dos riscos não só protege o patrimônio público e os ativos da empresa, mas também promove a segurança de cidadãos e colaboradores, assim como a normalidade social do cotidiano (esfera pública) e a continuidade das operações (esfera privada).

Continuidade de negócios e resiliência organizacional
Um plano de continuidade de negócios (PCN) é fundamental para assegurar que uma empresa possa continuar operando mesmo após a ocorrência de uma catástrofe natural. Este plano deve incluir procedimentos detalhados sobre como responder a diferentes tipos de desastres, desde tempestades e inundações até terremotos e incêndios florestais. O PCN deve ser regularmente revisado e testado para garantir sua eficácia. É indispensável que o poder público tenha um plano equivalente para a comunidade (que, claro, não será “de negócios”, mas uma das atribuições das instituições de Defesa Civil).

Diferenças entre riscos seguráveis e não-seguráveis
Quando se trata de catástrofes naturais, é importante distinguir entre riscos seguráveis e não-seguráveis. Riscos seguráveis são aqueles que podem ser cobertos por uma apólice de seguros, como danos materiais e interrupção de negócios devido a eventos específicos. Já os riscos não-seguráveis são aqueles que não podem ser facilmente cobertos por seguros tradicionais, como perdas de mercado ou danos à reputação da empresa. Compreender essa diferença é crucial para a elaboração de uma estratégia abrangente de gestão de riscos.

Seguros adequados para proteger o seu negócio
Um programa de seguros adequado é parte vital da preparação para catástrofes naturais. Este programa deve ser cuidadosamente estruturado para cobrir todos os riscos seguráveis identificados na análise de risco. Além disso, é importante trabalhar com uma corretora de seguros experiente, que possa ajudar a encontrar as melhores apólices e coberturas. Um bom programa de seguros oferece uma rede de segurança financeira que pode ser crucial para a recuperação após um desastre.

Sintetizando...
Preparar-se para catástrofes naturais é uma responsabilidade crítica para qualquer governo e empresa. Por meio de uma gestão de riscos eficaz, da implementação de um plano de continuidade de normalidade social e de negócios, da compreensão dos riscos seguráveis e não-seguráveis e da criação de um programa adequado de seguros, comunidades e empresas podem aumentar sua resiliência e capacidade de recuperação. Investir tempo e recursos nessas áreas não é apenas uma medida de precaução, mas uma estratégia essencial para garantir a sustentabilidade e o sucesso a longo prazo, tanto da gestão pública quanto da gestão do negócio.

Podemos ajudar
A SICCS tem o preparo técnico, a experiência e a visão de global que permitem identificar e indicar as melhores soluções de seguro para episódios como esse que vem mobilizando o Brasil. Informar sobre as possibilidades de proteção e disponibilizar nossa expertise também são formas de nos solidarizar com todos que vêm sofrendo, direta e indiretamente, com os fatos.


Para saber como ajudar o Rio Grande do Sul com doações, veja a matéria anterior, aqui mesmo em nosso blog.


Fontes
www.fia.com.br
www.abrasco.org.br
www.estado.rs.gov.br
www.agenciabrasil.ebc.com.br
www.portal.tcu.gov.br


O setor de seguros tem de pensar em sustentabilidade?

Sim, tem. O que era uma possibilidade tornou-se realidade. Há alguns meses, dissemos aqui em nosso blog que a Susep (Superintendência de Seguros Privados) havia aberto consulta pública a fim de estabelecer diretrizes para que o mercado de seguros passasse a inserir algo como uma “avaliação de ESG” em seus negócios. A circular do órgão dispunha sobre requisitos de sustentabilidade a serem observados pelas seguradoras e demais entidades do setor, com o objetivo de fomentar uma atuação mais resiliente e... sustentável do segmento.

Agora é fato: a sustentabilidade supostamente é o tema de novos requisitos de regulamentação do setor criados pela Susep, que constam na Circular 666/22, publicada em 29 de junho. Teoricamente, o principal objetivo da norma é avaliar o comprometimento das empresas com as causas ambientais e fomentar a mitigação dos riscos climáticos por meio de ações dentro de um espectro que a entidade trata sob a sigla ASG - iniciais de “Ambiental, Social e Governança” - um versão aproximada, em português, de sua, digamos, altamente provável fonte de inspiração em inglês, a já bem conhecida, e supra-citada, ESG (Environmental, Social and Governance).

Entre as medidas anunciadas, está a exigência de que cada organização crie uma política de sustentabilidade - a ser reavaliada a cada 3 anos - e publique relatórios anuais sobre o tema. A circular da Susep entra em vigor muito em breve, já no dia 1° de agosto, e deve impactar a atuação de seguradoras, entidades abertas de previdência complementar, sociedades de capitalização e resseguradores locais.

Certamente há, e haverá, no segmento como fora dele, quem diga que vê essa mudança com tranquilidade, pois já pensa e investe em sustentabilidade, tem iniciativas alinhadas a estratégias de transformação digital, passando por gestão de riscos climáticos etc. etc.

Evidentemente, nenhum player responsável do setor de seguros deixará de seguir uma norma criada por quem tem a função de (e autoridade para) regular o próprio segmento - e a SICCS não só sempre cumprirá as obrigações que a contemplarem como está pronta a ajudar seus parceiros e clientes em questões relacionadas ao tema.

Mas há pelo menos 4 pontos que vale a pena considerar criticamente. Primeiro: apesar do alarde pré-catástrofe aparentemente consensual sobre o que antes se chamava de “aquecimento global” e agora é tratado por “mudança climática”, há argumentos de cientistas confiáveis e evidências consistentes que tornam, no mínimo, questionável que o fenômeno esteja realmente acontecendo - e que, se estiver, seja causado pela ação humana (hipótese antropogênica).

Segundo: se a atmosfera do planeta estiver realmente aquecendo, e mesmo que isso se deva à ação humana, não há no horizonte previsível nada que indique que isso provocaria um desastre de proporções globais - algo como o fim do mundo, ou da nossa espécie - e é bastante defensável que o fato provavelmente trará, também, consequências boas. Entre elas, um período de maior fertilidade, o que deve resultar em mais alimentos, com certeza tornando-os mais baratos. Ou seja, contra tudo que ouvimos nas notícias de tom alarmista e catastrófico, um planeta um pouco mais quente talvez resulte em menos gente com fome.

Terceiro: um dos “grandes exemplos” de responsabilidade climática dado por várias empresas é a redução do uso de papel, com a crescente substituição desse material por plataformas digitais. Mas, no Brasil, a indústria de papel é hoje classificada como altamente sustentável, favorável ao meio ambiente em termos de “emissões de carbono” (retirando da atmosfera mais do que produz).

Por outro lado, equipamentos eletrônicos são de difícil reciclagem e sua fabricação é bastante poluente - as baterias de lítio, por exemplo, que precisam ser recarregadas constantemente e mesmo substituídas regularmente, são feitas de material proveniente de mineração e, evidentemente, consomem quantidades significativas de energia elétrica. Portanto, a redução de papel é muito motivada pela economia que traz para as empresas do que pela “consciência ecológica”.

Quarto: os conceitos de sustentabilidade e de preservação ambiental não são a mesma coisa. Além de a nova regulamentação da Susep praticamente focar só no tema meio ambiente - deixando quase em segundo plano o S e o G da sigla que assume - sustentabilidade pode ser definida como a qualidade de algo que é realizado de forma planejada, de modo a não se autoesgotar e ser capaz de se manter ao longo do tempo - inclusive economicamente.

Assim, à parte a obrigatoriedade legal de cumprir quaisquer regras que constem do arcabouço jurídico que regula o segmento de seguros, é saudável que cultivemos uma visão crítica, desapaixonada - racional - sobre diretrizes que provoquem impacto financeiro. Em qualquer negócio.

 

Fontes
www.revistaapolice.com.br
www.novosite.susep.gov.br
www.abgr.com.br
www.gazetadopovo.com.br/autor/eli-vieira
www.youtube.com/watch?v=f0Qw8d7qJO0&t=3s&ab_channel=EliVieira