Open Insurance: o segurado com mais poder de decisão
Quando se trata de negócios, na era digital nenhum poder de decisão é mais importante – e valioso – do que aquele que se tem sobre os próprios dados. A LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados é uma expressão desse fato no âmbito legal e jurídico.
É exatamente a existência da LGPD e a segurança jurídica que ela se propõe a fornecer, combinadas à alta voltagem de inovações tecnológicas num cenário cada vez mais cheio de startups, que irá permitir ao mercado de seguros avançar em direção a formas de atuação também inovadoras, nem sempre relacionadas ao “tradicionalismo” do segmento.
Por meio de recursos tecnológicos como APIs (Application Programming Interface), que em português significa interface de programação de aplicativo, companhias do segmento securitário poderão trocar entre si uma infinidade de dados sobre suas relações com seus respectivos clientes, elaborando e propondo soluções que poderíamos chamar de transversais, agregadas, ou seja, combinando produtos/serviços para propor ofertas mais completas que nenhuma delas talvez fosse capaz de oferecer sozinha.
Essa troca livre de dados por meio de plataformas e aplicações seguras, especificamente desenvolvidas e configuradas para isso, é o que explica o termo “open”. A solução oferecida é “open” porque a oferta não chega na ponta como um pacote fechado, adquirido de uma só companhia, e sim como uma proposta aberta, multiorigem, multifacetada e altamente customizável para cada cliente.
Há algo comparável acontecendo no mercado financeiro, o Open Banking, e qualquer pessoa que já tenha recebido propostas de crédito “sob medida” de várias operadoras da área – após contratar, consultar ou mesmo simular um empréstimo numa só instituição – teve, sem saber, uma pequena experiência com essa nova dinâmica de mercado, que está mais avançada, mas também ainda em desenvolvimento no Brasil.
No segmento de seguros, esse modelo disruptivo favorece a inclusão de clientes que não teriam acesso a soluções disponíveis no mercado clássico, ampliando as possibilidades de negócio para as empresas que façam parte de um mesmo “ecossistema”, sejam elas já consolidadas no mercado ou startups originadas pelas novas possibilidades tecnológicas – as insuretechs (do inglês, “insure” que significa seguro + “tech”, de tecnologia).
Mas toda essa inovação só poderá acontecer na vida real se o cliente, última e principal instância do mercado de seguros, autorizar o compartilhamento de seus dados, tanto individuais como relativos ao seu relacionamento com empresas, entre as diversas outras empresas que podem se interessar por ele. Como é fácil deduzir, isso favorecerá a concorrência.
Provavelmente o aspecto mais interessante e inovador da chegada do Open Insurance – cuja regulamentação se encontra em consulta pública aberta pela Susep (Superintendência de Seguros Privados) até 25 de maio – seja mesmo o “empoderamento” do consumidor final, o segurado. Senhor de seus dados, em vez refém das empresas ele poderá se tornar o que merece ser: protagonista.
Economia prateada
Desafios e oportunidades.
Uma forma um tanto poética de se referir ao aspecto grisalho de uma pessoa mais velha é dizer que ela tem os cabelos prateados. Indivíduos dessa faixa etária são ao mesmo tempo um desafio e uma oportunidade para o mercado de seguros.
Uma pesquisa sobre esse público sênior realizada pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNSEG) buscou entender como o mercado brasileiro trabalha com ele e também a experiência internacional, em busca de insights para as seguradoras.
Foram levantados aspectos relacionados a produtos, serviços, análise de informação, subscrição, ações de comunicação, idade máxima na contratação do seguro, distribuição dos clientes por faixa etária e programa de contratação de funcionários.
Analisando EUA, China, Japão, Alemanha e Chile – este representando a América do Sul – observou-se que todos esses países, mesmo com suas grandes variações culturais, econômicas e de modelos previdenciários, terão de lidar com as consequências da maior longevidade da população: menos gente pagando por cada vez mais benificiários vivendo por mais tempo.
“O estudo mostra que as seguradoras, inclusive aqui, devem ter estratégias para atender ao consumidor que envelhecerá nos próximos anos ou décadas. Esse público, enquanto ativo e independente, tem poder de compra e alguns deles podem se dar ao luxo de gastar um pouco mais. O mercado segurador precisa estar atento à cadeia de valor que surge em seu entorno e aos riscos específicos de cada atividade”, destaca Antonieta Scarlassari, líder do Grupo de Trabalho responsável pela pesquisa.
O modelo privado americano de saúde, por exemplo, estimula a criação de empresas dedicadas aos idosos, abrindo um leque de oportunidades para o seguro, com soluções que tranquilizem cuidadores, reduzam riscos de acidentes e enfermidades e, por fim, assegurem maior segurança, independência e qualidade de vida ao público sênior.
Em várias partes do mundo, também pode-se observar uma rede de apoio em torno dos idosos, que incluem condomínios específicos com arquitetura adaptada e atendimento médico mais acessível, equipamentos urbanos para atividade física e lazer, centros de aprendizado, entre outros.
No estudo de 73 páginas, talvez o principal aprendizado para as seguradoras – as deles e as nossas – seja seguir os bons exemplos públicos e privados já disponíveis: desenvolver soluções amigáveis aos idosos, considerando o fato inevitável de que são uma faixa de consumidor cada vez mais relevante, que muitos são ativos, independentes e têm até maior poder de consumo, movimentando em torno de si toda uma cadeia de negócios.
Ou seja, desenvolver estratégias para aproveitar as oportunidades de ouro geradas por essa crescente economia prateada.
Fontes:
https://www.fenacor.org.br/noticias/estudo-aponta-novas-oportunidades-e-desafios
https://cnseg.org.br/radio/painel-economico-populacao-senior-movimenta-a-economia.html