Coisas que você não sabia sobre o carnaval

Quem curte e quem não curte a folia carnavalesca acaba sendo de alguma forma atingido por ela – quando ela existe e mesmo nesse ano, em que foi oficialmente cancelada.

Termos como blocos, cordões, escolas de samba, desfiles e quesitos tornam-se quase onipresentes em pautas de TV, rádio, jornais e, sim, também nas redes sociais.

Mas mesmo quem não aprecia do reinado de Momo talvez ache interessante entender um pouco mais como se organiza essa que, goste-se ou não, é uma das principais manifestações culturais do nosso país.

Concentremo-nos em dois, por assim dizer, protagonistas dessas pautas: o bloco e a escola de samba. Muita gente – quase todo mundo, talvez – não sabe qual a diferença entre ambos (embora possa intuir, baseado no que vivência).

Tratamos aqui de uma classificação fundamentada, mas um tanto informal, que não reflete por completo documentos oficiais dos poderes públicos nem das agremiações de uma coisa e de outra.

Pois bem: o bloco é uma manifestação de rua, relativamente espontânea e informalmente organizada, em que os membros geralmente (mas nem sempre) usam algum tipo de uniforme para poder ser identificados, desfilam em espaço público e cantam várias canções, que podem variar bastante de acordo com a tema adotado.

Os integrantes de um bloco podem até tocar instrumentos, o que quase nunca é obrigatório, e existem mesmo agremiações em que o principal do som vem de gravações e equipamentos eletrônicos. Além disso, com poucas exceções, o desfile tem intenção puramente recreativa, não competitiva.

Já a escola de samba, embora tenha o mesmo caráter de manifestação popular, é uma agremiação organizada, na qual existem alas, que têm fantasias específicas, e durante o desfile há uma canção oficial a ser cantada: o famoso samba-enredo, que conta uma única história, necessariamente refletida nas fantasias e carros alegóricos presentes na apresentação.

Mas talvez a principal diferença da escola de samba é que conceitualmente ela é criada em torno da bateria, na qual precisam estar incluídos, obrigatoriamente, vários tipos de instrumentos. A bateria, portanto, é elemento fundamental, constitutivo, e tem de tocar o tempo todo, com componentes têm exclusivamente essa função. Outra coisa, evidente, mas que não custa apontar: o que a bateria toca tem de ser um samba. Pois é o samba que, numa bela figura de linguagem, “irradia” a agremiação em torno de si, ideia que também se reflete na palavra “escola”. E, claro, as escolas de samba desfilam com intuito competitivo.

Nesse carnaval atípico, imposto pela pandemia, provavelmente não é o melhor momento de pensar em seguros, pessoais ou corporativos. Porque mesmo com as festas que criam aglomerações tendo sido canceladas, ou proibidas, muitos querem aproveitar esse gap quase tradicional no ano brasileiro para descansar e relaxar – ou talvez brincando de alguma forma virtual.

Por mais que haja a tentação de sair e aglomerar-se, seja na avenida ou num canto qualquer menos visado da cidade, esse ano a melhor forma de “seguro” é ficar em casa ou inventar uma forma alternativa, sem riscos, de brincar a festa.

Quando a batalha contra a covid-19 estiver vencida, aí sim, poderemos, todos, fazer folia.


Vacinar(-se) ou não durante a gestação?

Uma das maiores complicações no desenvolvimento de novos medicamentos é o binômio segurança-eficácia de um princípio ativo ainda em estudo no que se se refere a mulheres grávidas. Há substâncias que atravessam a barreira de proteção natural constituída pela placenta, chegando ao feto e podendo alterar de alguma forma seu desenvolvimento normal durante a gestação.

Mesmo quando a substância em si não age diretamente sobre o meio ambiente intrauterino, onde está o futuro bebê, se o medicamento alterar de forma significativa o funcionamento do organismo da mãe também pode haver consequências futuras – para ambos.

Evidentemente, isso não significa que mulheres grávidas não podem ou não precisam ser medicadas, mas sim que quando se trata delas é preciso ter cautela redobrada na administração de qualquer fármaco: existem diversos deles que têm segurança extensamente comprovada para gestantes, e outros tantos que não.

Dado o ineditismo da covid-19 – doença “descoberta” há pouco mais de um ano – assim como das vacinas desenvolvidas até agora para combatê-la, é mais do que esperado que surjam dúvidas sobre a indicação ou não dessas novas drogas durante a gravidez.

A posição da OMS – Organização Mundial da Saúde mudou recentemente, de forma um tanto sutil, mas relevante: se antes contraindicava claramente “devido a dados insuficientes” o uso das vacinas da Pfizer e da Moderna em gestantes, a menos que estivessem em alto risco, agora afirma não existir até o momento  nenhuma razão para acreditar que há riscos específicos que superem os benefícios da vacinação nestes casos. A orientação não muda no que se refere ao perfil de risco da paciente e à óbvia necessidade de discussão com seu médico.

É bom que se diga que a OMS erra, e desde o início da pandemia muitos especialistas em saúde acusaram o órgão internacional de equívocos que podem ter comprometido a saúde – e a vida – de milhões de pessoas no mundo todo. Claro que não se pode ignorar completamente suas orientações, mas também não parece recomendável tomá-las como verdades científicas absolutas.

Os fatos até o momento são os seguintes: nenhuma das vacinas já disponíveis hoje – inclusive a CoronaVac, do Instituto Butantan, não citada especificamente pela OMS – envolveu a realização de testes clínicos ou estudos controlados em mulheres grávidas, exatamente pela complexidade da tarefa, inclusive no que se refere a questões éticas.

A vacina da Oxford-Astrazeneca até traz na bula brasileira uma clara contra-recomendação: “Como uma medida de precaução, a vacinação com a vacina covid-19 (recombinante) não é recomendada durante a gravidez”, devendo o uso “ser baseado em uma avaliação se os benefícios da vacinação superam os riscos potenciais”.

É muito provável que estudos futuros, talvez muito em breve, já contemplem esse perfil específico de paciente, mas até chegar lá como se decidir pela vacinação ou não durante gestação?

A ausência de uma resposta exata, uma certeza científica, é tanto frustrante como talvez o caminho para a única resposta possível no presente (que, aliás, pode ser estendida para praticamente qualquer medicamento): a avaliação criteriosa, rigorosa, discutida e acompanhada de perto por um médico confiável, competente e atualizado, seguida de uma decisão consciente e conjunta baseada no custo-benefício para a paciente (já insinuado acima).

O tema é muito delicado e sério – como o momento que estamos vivendo – e soa bastante realista dizer que muitas decisões das mais importantes da nossa vida não são tomadas com tanta serenidade e sensatez.