Seguros: versão real.

A ideia de que a área é desinteressante é piada de filme.

É uma piada fácil em filmes - e agora séries - principalmente em comédias e, em certa medida, histórias de aventura e ação, retratar o profissional de seguros como “o chato” ou aquele que tem uma atividade muito chata e tediosa. Todo mundo já viu um personagem que o roteiro pretende definir como chato dizer que tinha como compromisso participar de uma “convenção de seguros”.

Tudo bem, é apenas uma piada, baseada num estereótipo. Ou seja, é para levar “na esportiva”. Não vamos aqui fazer como militantes radicais de tantas causas, que enxergam em qualquer tipo de humor, ou irreverência, agressão, violência e desrespeito reais. Mas já que esse é o nosso negócio, e que falamos para um público diferenciado, interessado no tema, podemos fazer um contraponto - a sério.

A ideia do seguro é muito simples: um grupo de pessoas/empresas, expostas à eventualidade de um mesmo tipo de risco (ameaça à vida, à saúde, ao patrimônio), decide partilhar o custo de uma proteção comum. Isso se chama mutualismo, conceito segundo o qual cada pessoa ou organização contribui com um pouco, de acordo com suas possibilidades, e cria-se a partir dessa, digamos, participação solidária um fundo administrado pelas seguradoras para contrapor-se ao risco de acidentes e ameaças à vida, à integridade física, à saúde e ao patrimônio dos segurados.

A atividade seguradora tem, portanto, a missão de proteger agentes produtivos contra riscos de perdas patrimoniais e assegurar às pessoas e organizações proteção à vida e à saúde, bem como a reposição de bens, indenizações e benefícios em caso de infortúnio. De uma forma ou de outra, o seguro está presente na vida de todos - quer seja percebido ou não - e nesta condição o mercado de seguros pode ser visto como fator indispensável à preservação do bem-estar coletivo, da tranquilidade, da paz social e do desenvolvimento econômico de qualquer país.

Daí que a atividade seguradora pode ser considerada uma forma de solução moralmente justa para um dos mais angustiantes problemas de indivíduos e empresas diante das contingências da vida real: a incerteza em relação ao futuro. O mutualismo, seu fundamento, nasce da convergência e da prática de duas virtudes que qualificam as relações humanas: a boa-fé e a solidariedade.

A boa-fé se manifesta formalmente como lastro de credibilidade à palavra do segurado - quando declara suas condições na contratação de uma apólice - e à da seguradora, ao prometer proteção, reposição de bens e rendas ou reparação de danos. E a solidariedade é o vínculo entre aqueles que decidem repartir entre si o preço da proteção à vida e ao patrimônio, em face da imprevisibilidade do risco individual e do infortúnio.

É a partir do momento que procede à partilha do risco entre muitos, democratizando a possibilidade de proteção, que o seguro cumpre relevante função social. Reforçando: cada qual contribui com pouco, de acordo com suas possibilidades, para fazer face ao risco, que é comum, e proteger-se do infortúnio, incerto e futuro, no momento em que ele se individualiza.

Esses aspectos, provavelmente desconhecidos para a maior parte das pessoas - e com certeza para muitos roteiristas de filmes - revestem o trabalho das empresas de seguro de características muito especiais, marcadamente fundamentadas na ética, e o destaca positivamente no conjunto das atividades econômicas.

Nada menos chato ou desinteressante - e mais necessário.

 

Fontes
www.cnseg.org.br
www.direitonet.com.br
www.conceitos.com/seguro


Hoje não é Dia Internacional da Mulher

É bastante comum que no Dia da Internacional da Mulher, e muitas vezes ao longo de todo o mês março, no qual a data está incluída (dia 8), as empresas cumprimentem o público feminino afirmando que o ideal é que as mulheres sejam lembradas, respeitadas e valorizadas o ano inteiro. Nós concordamos, mas, ao contrário da maioria, decidimos colocar isso em prática também aqui no nosso blog.

Nem é preciso dizer que a participação das mulheres no mercado de trabalho há anos apresenta uma tendência consistentemente crescente, mas é bom lembrar o que isso significa em termos de gestão securitária: há todo um público com questões de saúde específicas de seu sexo (ou “gênero”, para quem prefere o vocabulário progressista), e isso de alguma forma tem impacto nos planos de saúde corporativos.

E assim como no caso dos homens - somos a favor da igualdade não só de direitos e oportunidades, mas também de cuidados - medidas educativas e de prevenção são um jogo de ganha-ganha: ao mesmo tempo em que a profissional preserva sua saúde e qualidade de vida, a empresa reduz os efeitos de uma possível ausência, permanente ou temporária, de seu talento - aquilo que o segmento de seguros chama pelo termo, algo árido, de absenteísmo.

Aqui é o ponto de lembrarmos, de novo, que igualdade de direitos, oportunidades e cuidados não é igualdade de ser. As particularidades anatômicas e fisiológicas (ou seja, biológicas) da mulher, classicamente definida como uma fêmea humana adulta - mais uma vez sob protesto de militantes e ativistas extremados - requer cuidados específicos. Vejamos alguns exemplos de temas que uma empresa pode abordar.

- Câncer de mama - Segunda maior causa de morte de mulheres no Brasil (vem logo depois de doenças cardíacas), tem prognóstico bastante positivo quando identificado precocemente, por meio de mamografia periódica e autoexame regular.

- Câncer de colo de útero - Também chamado de câncer cervical, é causado pela infecção persistente por alguns tipos de HPV. Pode ser facilmente descoberto em fase inicial no exame preventivo conhecido também como Papanicolau e é curável na grande maioria dos casos, mas pode passar despercebido e evoluir mal sem o exame periódico.

- Endometriose - Quadro em que parte do endométrio, tecido que recobre a área interna do útero, migra para fora da cavidade uterina, causando cólicas menstruais fortes e dor pélvica crônica, entre outros sintomas, podendo até levar à infertilidade. Consultas regulares ao ginecologista ajudam no diagnóstico e tratamento precoces.

- Fibromialgia - Síndrome de dores crônicas por todo o corpo, sem causa definida ou aparente - ainda uma espécie de mistério para a medicina, já que a dor parece ser a própria doença, não um sintoma de outra coisa - atinge apenas 1% do público masculino.

- Depressão - Condição há muito tempo reconhecida pela medicina como uma doença e que pode ter diversos sintomas, como falta de motivação/prazer em atividades antes prazerosas, isolamento social, tristeza contínua, irritabilidade exagerada, distúrbios do sono, entre outros. Mulheres têm 2 vezes mais chances de ter depressão, provavelmente devido às oscilações hormonais do corpo feminino.

- Climatério e menopausa - Essa fase de transição do período reprodutivo para o não reprodutivo da mulher é marcado por uma série de sinais e sintomas que surgem antes e depois da menopausa (nome que, tecnicamente, se refere à última menstruação) e são causados pelas diversas variações hormonais típicas do processo. Existem diversas abordagens terapêuticas, individualizadas, para essa fase.

Agora imagine que todas as mulheres de uma equipe/força de trabalho sejam estimuladas a tomar todos os cuidados necessários para não terem sua saúde e qualidade de vida comprometidas por esses e outros problemas típicos, senão exclusivos, do organismo feminino - e não só por meio de ações de conscientização, mas também de forma prática, com incentivo ao uso racional do plano de saúde.

O resultado mais provável será a promoção de uma boa condição de saúde, mais estável e consistente, entre as colaboradoras, e portanto menor absenteísmo, e portanto mais produtividade, e portanto melhor custo-benefício do... benefício, a médio e longo prazo. Como dissemos, um jogo de ganha-ganha que inclusive tem papel importante na atração e retenção de talentos (leia-se aqui maior prestígio interno da empresa).

É por isso que se torna relevante dizer, como em nosso título, que oficialmente hoje não é o Dia da Mulher. Só que é.

 

Fontes
www.blog.alelo.com.br
www.bvsms.saude.gov.br
www.pebmed.com.br
www.docctormed.com.br
www.gov.br/inca/pt-br


Gestão de Riscos: conceitos técnicos

A Gestão de Riscos deve fazer parte da rotina corporativa, estar alinhada às práticas e aos princípios de controles internos e servir como suporte às áreas de negócio e aos administradores da companhia na tomada de decisões.

Em linhas gerais, Gestão de Riscos se refere aos princípios, à estrutura e ao processo para mitigar riscos que eventuais fraquezas internas e ameaças externas trazem ao negócio, seja pela probabilidade de sua ocorrência, seja pelos impactos negativos que podem vir a gerar caso se materializem.

Considerando definições presentes em documentos de melhores práticas e regulamentos associados ao tema, uma boa Gestão de Riscos precisa:
Ser compatível com a natureza, escala e complexidade das operações da organização;
Prever processos, metodologias e ferramentas para identificar, avaliar, mensurar, tratar e monitorar a exposição a riscos;
Adotar tratamentos e controles adequados, compatíveis com cada risco, com o objetivo de evitá-lo, mitigá-lo, compartilhá-lo ou mesmo aceitá-lo de forma consciente e controlada;
Descrever o conjunto de riscos a que a companhia está exposta, de acordo com a metodologia empregada para a identificação de riscos, definindo um “apetite ao risco” (veja adendo abaixo) e a forma de alcançar objetivos estratégicos para criar valor aos acionistas;
Considerar a elaboração de um plano de continuidade de negócios, contendo as informações e os procedimentos necessários para a manutenção das atividades críticas da organização diante de situações que afetem seu funcionamento normal.

A identificação e a avaliação dos riscos precisam considerar, entre outros, os seguintes tipos de riscos:
Estratégicos - Riscos associados a decisões estratégicas da organização para atingir os seus objetivos de negócios;
Financeiros - Riscos associados à exposição das operações financeiras da companhia e suas subsidiárias, que podem ser classificados em riscos de mercado, de crédito e de liquidez;
Operacionais - Riscos decorrentes da falta de consistência e adequação dos sistemas de informação, processamento e controle de operações, assim como de falhas no gerenciamento de recursos e controles internos;
Compliance - Riscos relacionados a sanções legais/regulatórias, de perda financeira ou dano à reputação que a empresa pode sofrer como resultado da falha no cumprimento da aplicação de normas, leis, acordos, regulamentos, código de ética ou conduta ou demais políticas e normas internas;
Segurança da informação - Riscos relacionados a controles ineficazes ou inexistentes e ações indevidas que possam comprometer a confidencialidade, integridade e disponibilidade dos dados/informações coletados e tratados pela companhia.

Muitas companhias possuem seu próprio “dicionário de riscos”, não necessariamente seguindo a tipologia que descrevemos acima. Mas é indispensável que estas categorizações próprias contemplem todos os possíveis riscos a que a companhia está exposta e que sejam adotadas como linguagem única dentro da organização.

 

Um adendo

Pode parecer contra-intuitivo - uma vez que o termo “risco” parece estar sempre associado a algo negativo - mas devido às inúmeras particularidades dos vários segmentos possíveis de atuação corporativa, existe um conceito que pode ser chamado de apetite ao risco, que se refere a quanto de risco uma organização está disposta a correr para atingir seus objetivos.

O apetite ao risco pode ser parametrizado tanto qualitativa como quantitativamente e gerenciado em relação a uma iniciativa individual ou agregada da companhia, devendo sempre estar alinhado com suas respectivas estratégias, plano de negócios e limites de riscos aceitáveis. O apetite ao risco (assim como a tolerância a eles) deve ser sempre estabelecido pelo conselho de administração da companhia, nunca de forma autocrática por um de seus executivos.

Você quer contar com a parceria de quem domina todos esses conceitos, e muitos outros, para oferecer à sua empresa uma Gestão de Riscos consistente, que não só proteja sua companhia como também contribua para seus objetivos de negócio? Fale com a SICCS.

 

Fontes:
www.cnseg.org.br
www.susep.gov.br


O setor de seguros tem de pensar em sustentabilidade?

Sim, tem. O que era uma possibilidade tornou-se realidade. Há alguns meses, dissemos aqui em nosso blog que a Susep (Superintendência de Seguros Privados) havia aberto consulta pública a fim de estabelecer diretrizes para que o mercado de seguros passasse a inserir algo como uma “avaliação de ESG” em seus negócios. A circular do órgão dispunha sobre requisitos de sustentabilidade a serem observados pelas seguradoras e demais entidades do setor, com o objetivo de fomentar uma atuação mais resiliente e... sustentável do segmento.

Agora é fato: a sustentabilidade supostamente é o tema de novos requisitos de regulamentação do setor criados pela Susep, que constam na Circular 666/22, publicada em 29 de junho. Teoricamente, o principal objetivo da norma é avaliar o comprometimento das empresas com as causas ambientais e fomentar a mitigação dos riscos climáticos por meio de ações dentro de um espectro que a entidade trata sob a sigla ASG - iniciais de “Ambiental, Social e Governança” - um versão aproximada, em português, de sua, digamos, altamente provável fonte de inspiração em inglês, a já bem conhecida, e supra-citada, ESG (Environmental, Social and Governance).

Entre as medidas anunciadas, está a exigência de que cada organização crie uma política de sustentabilidade - a ser reavaliada a cada 3 anos - e publique relatórios anuais sobre o tema. A circular da Susep entra em vigor muito em breve, já no dia 1° de agosto, e deve impactar a atuação de seguradoras, entidades abertas de previdência complementar, sociedades de capitalização e resseguradores locais.

Certamente há, e haverá, no segmento como fora dele, quem diga que vê essa mudança com tranquilidade, pois já pensa e investe em sustentabilidade, tem iniciativas alinhadas a estratégias de transformação digital, passando por gestão de riscos climáticos etc. etc.

Evidentemente, nenhum player responsável do setor de seguros deixará de seguir uma norma criada por quem tem a função de (e autoridade para) regular o próprio segmento - e a SICCS não só sempre cumprirá as obrigações que a contemplarem como está pronta a ajudar seus parceiros e clientes em questões relacionadas ao tema.

Mas há pelo menos 4 pontos que vale a pena considerar criticamente. Primeiro: apesar do alarde pré-catástrofe aparentemente consensual sobre o que antes se chamava de “aquecimento global” e agora é tratado por “mudança climática”, há argumentos de cientistas confiáveis e evidências consistentes que tornam, no mínimo, questionável que o fenômeno esteja realmente acontecendo - e que, se estiver, seja causado pela ação humana (hipótese antropogênica).

Segundo: se a atmosfera do planeta estiver realmente aquecendo, e mesmo que isso se deva à ação humana, não há no horizonte previsível nada que indique que isso provocaria um desastre de proporções globais - algo como o fim do mundo, ou da nossa espécie - e é bastante defensável que o fato provavelmente trará, também, consequências boas. Entre elas, um período de maior fertilidade, o que deve resultar em mais alimentos, com certeza tornando-os mais baratos. Ou seja, contra tudo que ouvimos nas notícias de tom alarmista e catastrófico, um planeta um pouco mais quente talvez resulte em menos gente com fome.

Terceiro: um dos “grandes exemplos” de responsabilidade climática dado por várias empresas é a redução do uso de papel, com a crescente substituição desse material por plataformas digitais. Mas, no Brasil, a indústria de papel é hoje classificada como altamente sustentável, favorável ao meio ambiente em termos de “emissões de carbono” (retirando da atmosfera mais do que produz).

Por outro lado, equipamentos eletrônicos são de difícil reciclagem e sua fabricação é bastante poluente - as baterias de lítio, por exemplo, que precisam ser recarregadas constantemente e mesmo substituídas regularmente, são feitas de material proveniente de mineração e, evidentemente, consomem quantidades significativas de energia elétrica. Portanto, a redução de papel é muito motivada pela economia que traz para as empresas do que pela “consciência ecológica”.

Quarto: os conceitos de sustentabilidade e de preservação ambiental não são a mesma coisa. Além de a nova regulamentação da Susep praticamente focar só no tema meio ambiente - deixando quase em segundo plano o S e o G da sigla que assume - sustentabilidade pode ser definida como a qualidade de algo que é realizado de forma planejada, de modo a não se autoesgotar e ser capaz de se manter ao longo do tempo - inclusive economicamente.

Assim, à parte a obrigatoriedade legal de cumprir quaisquer regras que constem do arcabouço jurídico que regula o segmento de seguros, é saudável que cultivemos uma visão crítica, desapaixonada - racional - sobre diretrizes que provoquem impacto financeiro. Em qualquer negócio.

 

Fontes
www.revistaapolice.com.br
www.novosite.susep.gov.br
www.abgr.com.br
www.gazetadopovo.com.br/autor/eli-vieira
www.youtube.com/watch?v=f0Qw8d7qJO0&t=3s&ab_channel=EliVieira


Saúde tem limites?

Digamos que um usuário de plano de saúde precise consultar um profissional de fisioterapia ou terapia ocupacional e seu caso se encaixe no atual limite mínimo obrigatório de cobertura definido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Sabe a quantas consultas ele teria direito? Apenas duas.

Outro exemplo: no caso de o profissional de saúde ser um psicólogo ou fonoaudiólogo, as coberturas obrigatórias mínimas são, respectivamente, de 12 e 24 sessões/ano. Divida-se o número de sessões pelo número de semanas ou mesmo de meses de um ano e parecerá claro que a quantidade autorizada é insuficiente para tratamentos que, para atingir resultados minimamente satisfatórios, quase sempre precisam de frequência e continuidade.

É verdade que esses são os atuais limites mínimos, e dependendo do problema tratado os números podem ser muito maiores - às vezes, com uma diferença na casa das dezenas. Mas a questão é que não parece razoável que as coberturas tenham um limite que tende a ser meramente numérico, e que o protagonismo desse cálculo não seja a saúde do usuário.

Isso muda a partir de 1º de agosto de 2022, data em que começa a vigorar uma decisão da ANS que põe fim à limitação do número de consultas e sessões com psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas. Os atendimentos cobertos passarão a respeitar a prescrição do médico e não será mais preciso que a condição do paciente se encaixe numa lista restrita de diagnósticos.

A medida vale para usuários com qualquer doença/condição listada na Classificação Internacional de Doenças (CID), da Organização Mundial de Saúde (OMS), que tem cerca de 55 mil classificações. O convênio, portanto, será obrigado a cobrir qualquer tratamento prescrito pelo médico e que seja reconhecido pela comunidade científica.

Esta nova regra parece vir no rastro da polêmica causada pela definição jurídica de que o rol de procedimentos da ANS deve ser considerado taxativo (leia a matéria a respeito aqui em nosso blog) e da subsequente decisão, já em vigor - e provavelmente motivada pela pressão da opinião pública - que ampliou as coberturas para usuários com transtornos globais do desenvolvimento, como o autismo.

Evidentemente, a decisão terá impacto financeiro sobre as operadoras dos planos de saúde, que até o momento preferiram não se manifestar ou fazê-lo apenas de forma neutra e genérica, dizendo que “obedecem a todas as regras do setor”.

O que se pode depreender desta “movimentação” é o setor está passando por uma relevante fase de ajustes - talvez precipitada pela ênfase na pauta “saúde” durante a pandemia - cujo desfecho ideal é um cenário em que os interesses empresariais e as necessidades de usuários tendam ao equilíbrio, num jogo de forças contínuo, inevitável e até saudável em economias de mercado (como aspiramos a ser).

Todos sabem que a associação entre os conceitos de “mercado” e “saúde” é altamente delicada e complexa, mas também quase todo mundo concorda que a saúde suplementar é hoje peça fundamental na vida de muitos e muitos brasileiros. Um setor robusto, ao mesmo tempo justo e economicamente sustentável, com certeza precisa oferecer aos usuários tudo que eles necessitam para cuidar da própria saúde - nem mais, nem menos.

 

Fontes
www.g1.globo.com
www1.folha.uol.com.br
www.veja.abril.com.br/saude
www.istoedinheiro.com.br


Quando a automação torna as coisas mais humanas.

Em anos recentes, levantamentos feitos junto a empresas - às vezes milhares delas - indicaram que a administração de benefícios continua sendo uma das maiores dificuldades das corretoras de seguros que atuam neste segmento. Ou, como o ambiente corporativo prefere dizer eufemisticamente hoje em dia (tentando ingenuamente aposentar o adjetivo “difícil”), essa é uma área que oferece grandes “desafios”.

Trocando mais uma palavrinha, para ficar alinhados ao jargão da área, podemos definir a gestão de benefícios com o seguinte enunciado: um conjunto de mecanismos alinhados à visão da organização para oferecer outras formas de remuneração aos colaboradores além de seu salário, com o objetivo de gerar resultados em relação à motivação da equipe, ao aumento da produtividade e à atração e retenção de talentos.

Particularmente durante crises econômicas, a tendência é que as empresas tenham grande turnover de funcionários (rebatizados, como o leitor bem sabe, de colaboradores), tornando necessário que as corretoras disponham de soluções práticas para oferecer suporte aos seus clientes na automação da gestão de seus profissionais - e liberando o RH para se dedicar a outras demandas.

Quando questionados em pesquisas, mais da metade dos gestores manifestam ter dificuldades para contratar benefícios, seguráveis ou não - como plano de saúde, seguro de vida, vale-refeição, vale-transporte, entre outros - e manter atualizados os cadastros de colaboradores e dependentes. Vale lembrar que com uma boa gestão é possível manter o colaborador motivado mesmo com a redução do custo com benefícios.

Isso acontece porque a automação da gestão dá maior visão e controle ao gestor, facilitando e otimizando o processo de tomada de decisão em relação aos benefícios e seus custos, a ponto de viabilizar a manutenção do que é oferecido ao colaborador e mesmo assim atenuar o impacto econômico sobre a empresa. Uma vantagem do simples, mas valioso, uso da racionalidade.

Atenta às demandas do mercado, particularmente às necessidades de seus clientes, a SICCS disponibiliza uma plataforma exclusiva de gestão de benefícios que integra pessoas, processos e tecnologia, oferecendo diferenciais como automação, segurança, visão estratégica, interatividade, rastreabilidade e, principalmente, cooperação/conexão ágil e inteligente: seu nome é SICCS Services.

Completa e abrangente, entre as características citadas acima a plataforma SICCS Services inclui parâmetros para a emissão de alertas que evitam que a tomada de decisão seja postergada ou negligenciada, descumprindo prazos fundamentais para o negócio.

Se você se importa simultaneamente com a qualidade de vida dos seus colaboradores, com uma atuação mais estratégica do RH e com os resultados da empresa - e tem a percepção, correta, de que tudo isso está inevitavelmente relacionando - precisa conhecer a nossa plataforma SICCS Services. Ela demonstra que colocar as pessoas em primeiro plano significa fazer a mesma coisa com a sua empresa, praticamente ao mesmo tempo.

 

Fontes
www.revistaapolice.com.br
www.bwg.com.br
www.rhportal.com.br


Rol taxativo: nuances

Maniqueísmo é uma visão de mundo com origens filosófico-religiosas que concebe a vida segundo um dualismo entre poderes opostos e incompatíveis: algo como o bem e o mal absolutos. É de uma concepção maniqueísta que surgem mocinhos e vilões recorrentes e estereotipados em filmes de Hollywood e - mais grave - polarizações políticas como a que vivemos no Brasil hoje. É uma atitude maniqueísta que faz as pessoas “abandonarem” a racionalidade e ficarem cegas a nuances de questões complexas.

O assim chamado rol taxativo, que vem sendo muito falado e discutido desde o início de junho, é uma questão que parece ter sido talhada sob medida para suscitar opiniões e posturas maniqueístas. Há cerca de 3 semanas, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a lista de tratamentos cobertos por planos de saúde - o chamado “rol” da Agência Nacional de Saúde (ANS) - deve ser considerada taxativa, o que supostamente desobriga os convênios médicos a cobrir procedimentos (exames, terapias, cirurgias, fornecimento de medicamentos) que não estejam nela previstos.

De um lado, porta-vozes das operadoras de saúde falam de um cenário “catastrófico” caso a decisão tivesse sido em contrário (considerando o rol como exemplificativo), o que abriria margem para que fossem contemplados procedimentos não previstos na lista, inclusive por vias judiciais. A alegação, plausível, é que sem saber quais tratamentos são obrigados a oferecer, por lei, os planos não têm a previsibilidade de custos indispensável para calcular o valor dos serviços que oferecem.

De outro lado, muitos pacientes - inclusive com doenças graves e crônicas - que hoje recebem tratamento devido a liminares e outros mecanismos legais, alegam que a exclusão de procedimentos possivelmente resultante da decisão do STJ terá impacto tão profundo no atendimento às pessoas que vai acabar tirando vidas. Também é um argumento bastante forte e impossível de ignorar.

Qual seria, então, a decisão mais “correta”, mais adequada, “do bem”? Provavelmente, ela não existe: é uma imposição da realidade que em muitos casos não há uma alternativa em que todos saiam ganhando, ou ninguém se sinta, em alguma medida, prejudicado. Para evitarmos o maniqueísmo, portanto, vamos falar das nuances.

As nuances

Parece óbvio que uma prestadora de serviço - qualquer serviço - saiba previamente o que é obrigada a “entregar” por lei, para que possa se planejar. Quando a regulamentação é demasiadamente aberta, ou vaga, sempre haverá distorções e, talvez, abusos por parte do consumidor. 

Embora seja uma empresa prestando um serviço e cobrando por ele, o tema saúde é e sempre será sensível, e talvez não seja adequado, nem desejável, nem humano, que o segmento seja regido pela mesma lógica de outras áreas, nas quais a busca (legítima) exclusivamente por lucro não tem o potencial de comprometer saúde e vidas. 

A decisão do STJ não obriga as demais instâncias da Justiça a seguir seu entendimento, embora o julgamento sirva de orientação e provavelmente represente uma mudança na jurisprudência.

A decisão prevê exceções, como terapias expressamente recomendadas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), tratamentos para câncer e medicações off-label (usadas, com prescrição médica, para tratamentos que não constam na respectiva bula).

É possível contratar cobertura ampliada ou negociar aditivo contratual, e não havendo substituto terapêutico no rol, ou quando esgotados os procedimentos nele incluídos, pode haver, em caráter excepcional, a cobertura de tratamentos indicados por profissionais de saúde.

A imprevisibilidade financeira da operadora acaba por encarecer o plano adquirido por todos, pois é necessário que sua operação seja economicamente sustentável. Assim, o rol taxativo também tem potencial para beneficiar pacientes, ampliando o acesso à saúde suplementar ou diminuindo a pressão financeira sobre os já associados/usuários.

O que mudou foi a orientação jurídica para o entendimento do rol, agora visto como taxativo, mas o rol em si não está “congelado” e passa por atualizações periódicas de acordo com o desenvolvimento da ciência e da medicina. Ao entrar no rol, um tratamento para a ser obrigatoriamente coberto pelos planos. Há poucos dias, aliás - talvez já sob o efeito de certa pressão popular pós-decisão do STJ, que teve até vídeo de celebridade “global” nas redes sociais - a ANS decidiu ampliar as coberturas do rol para pessoas com transtornos globais do desenvolvimento, entre os quais está o transtorno do espectro autista (TEA).

É verdade que as operadoras de saúde têm junto à população em geral uma persistente imagem de quem pratica reajustes abusivos, alegando algo como “aumento dos custos de insumos e tecnologias da saúde”, também uma definição bastante genérica e vaga - como afirmam ser o rol exemplificativo.

A pouca transparência na relação com os clientes, resultante disso, faz com que eles tendam a não acreditar na redução de preços mesmo com a decisão sobre o rol taxativo. Justificada ou não - ou válida em alguns casos e noutros não - essa imagem não favorece discussões e decisões equilibradas e precisa ser considerada pelos players do mercado.

Antes do fechamento deste nosso artigo, um partido político entrou no Supremo Tribunal Federal com ação direta de inconstitucionalidade para suspender a interpretação que definiu o rol da ANS como taxativo. Como se sabe, no STF tudo pode acontecer, e recentemente têm dominado por lá decisões um tanto quanto improváveis.

O importante para quem tem de se demorar sobre a questão, como nós e nossos clientes, é tentar formar uma opinião baseada na realidade, em fatos, mas também conhecendo e respeitando perspectivas diversas e tendo em mente que, qualquer que sejam os desdobramentos futuros, alguém sairá contrariado. É a dinâmica da vida, em muitos casos.

Para enfrentá-la de forma produtiva, talvez o ideal seja aplicarmos ao máximo a característica que nos diferencia: a racionalidade. É mais fácil chegar à melhor solução para a maioria quando se dialoga sem o calor das paixões, sem rigidez e preconceito, sem ideologias extremas, sem considerar que sempre há bandidos e vilões - sem maniqueísmo.

 

Fontes
www.revistaapolice.com.br
www.g1.globo.com
www.stj.jus.br
www.noticias.uol.com.br/saude
www.oncoguia.org.br
www.jota.info


Sintomas menos conhecidos da depressão.

As muitas vezes em que a depressão já foi explorada em matérias jornalísticas, particularmente depois do surgimento da pandemia - devido ao aumento de casos resultante de vários aspectos do confinamento - popularizou em certa medida seus sinais e sintomas. É importante que fique claro que estamos falando da depressão em sua acepção mais técnica, uma doença de natureza psíquica, o que é bem diferente do “estar deprimido” usado popularmente, como esclarecemos anteriormente neste blog.

O rol de sintomas mais comuns e até mesmo o estereótipo que aparece em filmes, novelas e séries - razoavelmente preciso, mas incompleto - acaba por não contemplar certas manifestações menos comuns da depressão, algumas delas aparentemente contraditórias com o estado depressivo ou que surgem nos primeiros estágios de desenvolvimento desse mal que, estima-se, atinge mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo.

Qual o estereótipo? Uma pessoa confinada em seu quarto escuro, com expressão de tristeza contínua, sofrimento psíquico evidente nas expressões faciais e na postura corporal, sem vontade de sair, trabalhar, conversar, se alimentar, fazer coisas de que normalmente gostava e até mesmo tomar banho. Também é comum retratar a pessoa que enfrenta a depressão como alguém que dorme o dia todo, como se buscasse refúgio no sono. Em suma, um indivíduo totalmente prostrado.

Repetimos: esse quadro típico (e estereotípico) é bastante preciso, mas há manifestações da doença não tão conhecidas que podem “escapar” da percepção da pessoa que os apresenta e dos entes queridos que a rodeiam. Um bom exemplo é a insônia. Alguém pode apresentar insônia por diversos motivos e o quadro pode se restringir a um distúrbio do sono, mas em certos casos ela é um sinal de depressão, ou pelo menos um prenúncio de sua ocorrência.

Outro caso é a dificuldade de concentração, normalmente associada ao “simples” estresse ou a quadros de ansiedade. É fato que existe essa relação, mas também pode ser que a dificuldade de foco em certas tarefas que a pessoa já estava acostumada a realizar seja um sintoma depressivo. Sem falar que ansiedade e depressão não são excludentes, ao contrário: embora sejam duas coisas diferentes, é bastante frequente que ocorram ao mesmo tempo e que uma seja gatilho da outra.

Um terceiro exemplo: irritabilidade. Se quase todo mundo espera que quem está em depressão seja uma pessoa prostrada, como ela pode estar irritadiça e, em certa medida, agressiva? Ocorre que a depressão está relacionada a um desequilíbrio bioquímico no cérebro que altera o estado de humor, e essa instabilidade pode acontecer tanto para “o lado de lá” (falta de energia) como para o “lado de cá” (intensificação da agitação relacionada a emoções negativas).

Outro item importante, pouco mencionado quando se fala de depressão, é a agitação psicomotora, um estado de inquietação e movimentação excessiva associada a estados de tensão e reatividade aumentada a estímulos externos - algo que também não parece combinar com a ideia de uma pessoa sem energia, “vencida” pelo estado depressivo, mas que, sim, pode ser sinal do distúrbio.

Fazem parte também dessa lista de sintomas menos conhecidos a ocorrência dor de cabeça constante (que pode ser causada pelas noites mal dormidas) e dores no corpo sem causa evidente, como dor nas costas, dor de estômago, sensação de peso nas pernas. Claro que não esgotamos aqui os sintomas possíveis, nem que esses que citamos indicam, sozinhos, a ocorrência de depressão - que só pode ser diagnosticada clinicamente, por um médico, de preferência um psiquiatra. Mas é importante ficar atento quando esses sinais se manifestam e buscar orientação se perdurarem.

Tanto do ponto de vista médico como da perspectiva jurídica e legal, há amparo para que se estabeleça nexo de causalidade (relação de causa e efeito) entre condições de trabalho e depressão, com consequências previdenciárias e trabalhistas diretas, de direito à emissão de CAT (Comunicação de Acidente do Trabalho) para o colaborador, passando por auxílio-doença acidentário e chegando até a 1 ano de estabilidade após alta do INSS - entre outros.

Mais um motivo para que empreendedores e gestores fiquem sempre atentos a possíveis manifestações, bem típicas ou nem tanto, de depressão nos colaboradores. Além, é claro, da razão principal: a valorização, em todos os aspectos, do fator humano.

 

Fontes
www.drauziovarella.uol.com.br
www.tuasaude.com
www.jusbrasil.com.br


Beleza importa?

Se é relevante para a autoestima, é importante para a saúde.

A grande e acalorada discussão sobre imposição de padrões estéticos pode confundir a cabeça de quem ainda acha que todos têm o direito de achar algo ou alguém feio ou bonito (o que não significa avaliar só por isso, nem expressar essa opinião de forma inconveniente). Certamente existem padrões e certamente existe pressão social para atingi-los, mas daí a acreditar (sem demonstrar) que esses padrões são totalmente arbitrários e que as pessoas são indefesas frente à pressão social há uma longa distância.

Acontece que biólogos e estudiosos do comportamento já demonstraram fartamente que aquilo que as pessoas (na média), consideram atraente está diretamente relacionado a sinais de fertilidade e outras qualidades de “sobrevivência na selva”, ambiente em que viviam nossos ancestrais, com os quais compartilhamos nossa genética (quase toda). Não é uma opinião, é um fato.

Assim, uma determinada proporção entre busto/cintura/quadril na mulher indica (estatisticamente) uma maior capacidade para ter filhos (procriar, preservando a espécie) e um queixo de determinado formato no homem é uma marca biológica tanto de sua capacidade reprodutiva como da competência de caçar a refeição do dia e lutar contra o predador que vê, ou via, na nossa espécie sua refeição. Outro padrão identificável comum a várias culturas é a simetria - tanto que traços simétricos são chamados de “beleza clássica” (uma das definições de “clássico” é “aquilo que perdura”).

Uma ideologia extremista hoje praticamente predominante em várias mídias, tradicionais e digitais, prega que simplesmente reconhecer a existência de algo que pode ser chamado de “natureza humana” (e, portanto, desses marcos biológicos) é condenar as pessoas a determinado papéis e funções na sociedade. Em vez de reconhecer a existência e relevância das tendências biológicas e desvinculá-las das escolhas sociais individuais, muita gente prefere negar, ou desprezar, as evidências.

Pensar estatisticamente é algo um tanto complicado, nem todo mundo entende que predominância estatística não significa inexistência de variação. Portanto, embora a provável maioria dos seres humanos se sintam atraídos, a princípio, por certas características físicas, dentro da variação estarão aqueles que preferem outra coisa, e a própria convivência social pode acionar outros mecanismos de atração e estabelecimento de vínculos afetivos.

Mas, normalmente, é sobre um padrão biológico de atração identificável que se desenvolvem, por exemplo, hábitos como ir à academia, ao salão de beleza ou a uma clínica de tratamentos estéticos. A mudança não vai necessariamente “definir” a pessoa, mas pode deixá-la mais atraente, segundo certos critérios que acabam se tornando técnicos porque baseados na premissa estatística. E, ao sentir-se mais atraente, essa pessoa experimenta um reforço em sua autoestima, o que contribui para seu bem-estar.

Parece bastante ingênuo (e um tanto narcísico...) pensar que as pessoas cuidam da própria aparência pensando só em si mesmas. Os outros nos veem “por fora” muito mais tempo do que nós mesmos, e se só nosso próprio olhar no espelho importasse, não haveria em nossa espécie essa capacidade de identificar sinais de força e fertilidade nos outros.

Nada disso pode ser uma prisão, algo obrigatório ou compulsório, e parece melhor pensar nas pessoas - pelo menos as adultas - como sendo capazes de resistir à pressão social que tentaria “oprimi-las” do que condenar sumariamente quem gosta ou concorda com o padrão e decide buscá-lo. O problema é quando se vive só em função disso, subestimando aspectos de uma vida interior que envolve aspectos psicológicos, intelectuais etc.

Mas estar satisfeito com a aparência que se apresenta ao mundo é um fator importante para a saúde emocional, conceito que já citamos aqui quando abordamos o tema saúde integral. O mais importante - e civilizado - é que se a escolha de alguém for tentar realçar sua beleza baseando-se em padrões sociais, originados por drives biológicos, isso seja respeitado (exceção aos casos patológicos, que embora muito comentados parecem ser minoria).

A seu modo, e intuitivamente, ao investir em si mesma para ficar bonita a pessoa está cuidando, ao mesmo tempo, de sua saúde.


Telas: use com moderação.

A interação presencial é mais rica que o ambiente virtual.

Desde o surgimento das principais redes sociais digitais, no início dos anos 2.000, e principalmente com o aumento escalar de seu uso, cerca de uma década depois e até hoje, neurocientistas e outros profissionais dedicados ao estudo do comportamento e da cognição se interessaram e vêm investigando como a exposição prolongada a essas novas mídias e a interação virtual podem afetar o cérebro e nosso modo de estar, perceber e agir no mundo.

É certo que a existência das plataformas digitais abriu um universo de possibilidades quase infinitas para a humanidade, mas sempre houve suspeitas e indícios de que o, digamos, excesso de dedicação às telas pudesse afetar também de modo não muito salutar nossa percepção, inteligência e criatividade - e mesmo certos estímulos presentes na comunicação interpessoal presencial que caracterizam a própria condição que nos faz humanos.

Esse viés não tão positivo ganhou novas evidências com um estudo recém-publicado na revista Nature, conduzido por pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, que parece indicar que somos bem menos inventivos quando conversamos por meio de telas: teríamos menos ideias surpreendentes e capacidade de encontrar novas soluções. As videoconferências - recurso cujo uso cresceu geometricamente durante a pandemia - de alguma forma inibiriam a nossa criatividade.

Em uma das etapas do estudo, 602 participantes formaram duplas de trabalho com a missão de pensar em novos usos para um produto. Metade das duplas discutiu soluções frente a frente em uma mesa instalada dentro do laboratório e os outros pares fizeram a mesma coisa, só que seus integrantes foram separados em 2 ambientes, com a interação se dando totalmente pelo computador - como numa videoconferência. Os cientistas cuidaram para que a tela dos equipamentos oferecesse excelente nitidez de imagem e o sinal de Internet fosse ultraveloz.

Resultado: as duplas que trabalharam de modo virtual apresentaram um número menor de sugestões no final do tempo estipulado para o experimento. Ou seja, não foram tão imaginativas quanto as que interagiram “ao vivo”. Também foram registrados os movimentos dos olhos de todos os participantes, o que tornou possível constatar que o olhar daqueles que fizeram videoconferência raramente se desviou do computador. Para os autores, há uma relação entre esse foco limitado à área da tela e pensamentos igualmente mais estreitos.

Nas reuniões por videoconferência a tão bem-vinda troca de ideias ficou prejudicada por falta de contato olho no olho. Quando um integrante da dupla olhava para a câmera, ele deixava de encarar o parceiro de trabalho na tela. E, se olhava para o parceiro, aí era a câmera que perdia o posicionamento capaz de dar aquela impressão de mirar bem nos olhos da outra pessoa. Esse tipo de contato visual, dizem os autores do estudo, é fundamental para o que chamam de coordenação da fala.

Sem ela, as pessoas costumam iniciar frases ao mesmo tempo e se interrompem a todo momento. Não por acaso, o fenômeno foi bem mais frequente entre os pares que fizeram videochamada do que entre aqueles que se viram pessoalmente. Reconhecer as informações no rosto do outro também é um aspecto de extrema relevância. Na parte frontal do cérebro, há uma área que especializada só nisso, ativada sempre que alguém identifica uma expressão facial. A partir dessa informação, o cérebro faz ajustes no discurso que nem sempre passam pela consciência: se, por exemplo, capta no interlocutor mínimos sinais de insegurança, desagrado ou, ao contrário, de interesse pela conversa.

Na tela, essa tarefa fica bem mais difícil para o cérebro: expressões faciais não ficam tão evidentes no vídeo, por melhor que seja a resolução da tela e a velocidade da conexão. Sem contar que normalmente só se vê a outra pessoa dos ombros para cima e a linguagem corporal global – que pode envolver movimentos das mãos e dos pés, o ato de inclinar-se para a frente ou para trás e até mesmo o ritmo respiratório, entre outros - fica quase sempre de fora.

Na interação ao vivo, tudo isso está presente e é bastante intenso. O cérebro capta diversas informações do outro e do ambiente, ajusta a cada instante a expressão verbal e não-verbal, o conteúdo do discurso, os gestos que acompanham as palavras, tudo de acordo com os sinais que vai percebendo diante de si e ao seu redor. No virtual, recebemos menos insights vindos a partir desses estímulos, o que contribui para aquilo que chamamos de criatividade.

Isso significa que “devemos” abandonar as plataformas digitais/virtuais? Evidentemente que não, e nem seria possível em termos práticos: a essa altura, seu uso já é uma imposição da realidade. Mas tudo parece indicar que é extremamente necessário valorizarmos, cultivarmos e nos esforçarmos para dar prioridade à convivência em seu estado mais puro - presencial. Muito provavelmente, ela nos permite ser mais criativos - e, com certeza, é indispensável para permanecermos humanos.

 

Fontes
www.uol.com.br/vivabem
www.tecmundo.com.br/ciencia
www.columbia.edu