Saúde faz faltaS

Rankings são intrigantes: dependendo de quem os faz, apontam numa direção, em direções mais ou menos convergentes - ou em outra direção, totalmente oposta. Quando essa forma de hierarquizar informações envolve preferências (os 10 melhores filmes da história do cinema, por exemplo), é compreensível e até esperado que haja discrepâncias. Quando a base do levantamento supostamente são dados objetivos, a única conclusão possível entre resultados diferentes é que apenas um deles está certo.

Como lidar com rankings, então? Qual a melhor forma de entender dados diferentes sobre uma realidade supostamente objetiva, como principais motivos de afastamento do trabalho, nossa pauta de hoje? Para quem não está envolvido diretamente no levantamento, nem tem outro motivo para descredibilizar o ranking concorrente, talvez a melhor atitude seja direcionar o foco para o que os diversos rankings têm em comum. Aqui, parte-se do princípio de que todos eles acertaram em alguma coisa e que os pontos de convergência indicam maior probabilidade de veracidade.

Vamos pegar 2 exemplos. Segundo a consultoria B2P, especializada nesse tipo de levantamento, as 10 principais causas de afastamento no trabalho em 2022 foram, em ordem decrescente de nº de ocorrências:
- Lesões - Desde traumatismos até luxações, distensões e fraturas, permitindo deduzir alguma superposição com o próximo item.
- Doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo - Artrites, artroses, osteopatias etc., frequentemente adquiridas no trabalho.
- Transtornos mentais e comportamentais - problemas como depressão, ansiedade, síndrome de burnout, entre outros.
- Contato com serviços de saúde - Exames médicos de rotina, consultas, cuidados pós-cirúrgicos, acompanhar alguém doente etc.
- Doenças do aparelho digestivo - Gastrites, úlceras, apendicite etc.
- Gravidez - Cuidados na fase pré-natal, gravidez de risco, parto etc.
- Doenças do aparelho circulatório - Hipertensão, infartos, miocardites e outras doenças desse tipo incluídas no CID.
- Doenças do sistema nervoso - Enxaqueca, epilepsia, meningite, esclerose múltipla, mal de Alzheimer, doença de Parkinson etc.
- Doenças do aparelho geniturinário - Cólicas menstruais, problemas nas mamas, males relativos à próstata e outros órgãos do trato urinário.
- Doenças do sangue - Diferentes tipos de anemia, problemas de coagulação, imunodeficiências etc.

Já o artigo de uma empresa especializada em produtos ergonômicos, baseado em dados de um anuário do Dieese sobre emprego e renda, aponta como 3 principais causas:
- Dor nas costas - Seria a campeã em afastamentos do trabalho no Brasil, mas mencionada de forma genérica pode se superpor ao item 2.
- LER/DORT - Lesões por esforço repetitivo e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho também estariam entre as principais causas (parece difícil não encaixar “dor nas costas” nessa categoria).
- Depressão - Apontada como uma das doenças mais frequentes na população e com muitos casos que surgem exatamente no trabalho.

Como se vê, o 2º ranking parece dar significativamente mais peso a questões causadas por inadequações ergonômicas, e mesmo o 1º não diferencia muito nitidamente “lesões”, que podem ser causadas por (ou sintomas de) “transtornos osteomusculares”. Porém, há certa equivalência. Mas onde os rankings convergem mais claramente? No 3º item, principalmente na menção a depressão.

Quase qualquer busca de informações sobre doenças capazes de fazer as pessoas faltarem ao trabalho, quando realizadas levando em conta os dados citados por uma instituição dedicada a uma área específica (sociedades de dermatologia, cardiologia, oftalmologia e assim por diante), divergirá, ao menos em parte, de rankings mais abrangentes.

É compreensível, mas nem sempre confiável. O gestor que tem sob sua responsabilidade a saúde dos colaboradores - e/ou o gerenciamento do benefício de um plano de saúde corporativo - sempre precisará “filtrar” esses diversos rankings, levando em conta a metodologia utilizada, a confiabilidade da fonte, o “bom senso” e, principalmente, as necessidades e particularidades de seu negócio e do respectivo ambiente de trabalho.

Parece inquestionável que as questões envolvendo as lesões/dores relacionadas à prática laboral, e a depressão, ocupem lugar de destaque no absenteísmo. É uma providência com custo-benefício positivo praticamente certo direcionar, com certa prioridade, esforços, recursos e inteligência empresarial para preveni-los e atenuá-los. Além, claro, do aspecto humano envolvido.

O afastamento por motivo de saúde não é fácil para nenhuma das partes. Por isso, é importante cuidar. Durante o dia a dia de trabalho, os gestores precisam estar atentos ao que fazem os colaboradores, desde a eficiência em suas tarefas até o comportamento durante o expediente.

Boas práticas de gestão, líderes bem treinados e adesão a programas de saúde física e mental são as melhores ferramentas de que a empresas dispõem para manter os integrantes de suas equipes saudáveis e engajados com o trabalho. Soluções SICCS como Plano de Saúde Empresarial/Corporativo e Gestão de Benefícios ajudam nessa jornada.

Nós entendemos que, quando a saúde faz falta, as faltas se multiplicam.

 

Fontes
www.wellbe.co
www.pro-labore.com
www.exame.com/carreira
www.conexasaude.com.br
www.telavita.com.br


Julho Amarelo - Combate às Hepatites Virais

Hepatite é uma inflamação no fígado que pode ser decorrente de diversas causas: infecção, uso de medicamentos, uso de álcool e outras drogas, doenças autoimunes, metabólicas ou genéticas. Alguns dos sintomas mais comuns são cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.

Nosso blog de hoje foca nas hepatites infecciosas, especificamente causadas por vírus. Com foco na prevenção e conscientização das hepatites virais, uma lei federal instituiu, em 2019, a campanha nacional Julho Amarelo, que destaca a importância da testagem precoce e do tratamento da doença. Não por acaso, dia 28 de julho é o Dia Mundial da Luta Contra as Hepatites Virais, data criada pela OMS - Organização Mundial da Saúde.

Os tipos
No Brasil, as hepatites virais mais comuns são do tipo A, B e C. Existem, ainda, a hepatite D, mais comum na Região Norte, e a hepatite E, a menos frequente no país. As hepatites B e C são consideradas mais críticas, pois costumam ser silenciosas e acabam sendo descobertas quando a doença já está avançada, provocando cirrose hepática e até mesmo câncer de fígado.

As hepatites virais podem não apresentar sintomas por um longo período após a infecção e passam despercebidas por pelo menos 1 milhão de pessoas no Brasil, que convivem com a doença sem saber. Somente as hepatites dos tipos B e C são responsáveis por cerca de 74% dos casos no país, sendo que a hepatite C é, sozinha, responsável por 76% das mortes, segundo dados do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig).

Enquanto as hepatites A e E são transmitidas por contato com virus presentes em locais com condições precárias de saneamento básico, ou devido a más condições de higiene pessoal e alimentar, as hepatites B e C são transmitidas principalmente por relações sexuais desprotegidas, contato com sangue contaminado (inclusive por meio do compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicate de unha etc.) ou transplantes de órgãos de doadores infectados.

Outra possibilidade é a transmissão de mãe para filho durante a gravidez, por isso a testagem para hepatite em mulheres grávidas, ou com intenção de engravidar, é fundamental para prevenir a transmissão da mãe para o bebê, que pode ser evitada por tratamentos específicos nesses casos.

A prevenção
A prevenção das hepatites A e E incluem melhora no saneamento básico, evitar contato com água contaminada e higienização dos alimentos antes do consumo. A prevenção dos tipos B, C e D requer a adoção de práticas seguras, como o uso adequado do preservativo e o não compartilhamento de objetos perfurocortantes, como os já citados, e de higiene pessoal.

E nem é preciso dizer que em consultórios médicos e odontológicos, salões de manicures, entre outros - como estúdios de tatuagem e piercing - é importante sempre usar materiais esterilizados ou descartáveis.

E aqui vai talvez uma das informações mais importantes: existem
vacinas para a prevenção contra as hepatites A e B, e quem se vacina para o tipo B se protege também contra a hepatite D. Esses imunizantes estão disponíveis gratuitamente no SUS. Para os demais tipos de vírus não há vacina, mas existe tratamento.

Tratamento
A hepatite A é uma doença aguda e o tratamento se baseia em dieta e repouso, o que geralmente traz melhora em algumas semanas, sendo que e a pessoa adquire imunidade, ou seja, não terá uma nova infecção. As hepatites B e D têm tratamento e podem ser controladas, evitando a evolução para quadros severos.
E, claro, todas as hepatites virais devem ser acompanhadas e tratadas por profissionais de saúde, pois as infecções podem se agravar e trazer consequências graves, como dissemos acima.

Um dado extremamente relevante e não muito divulgado, talvez porque exista uma “corrente” na medicina que aposta no alarmismo como forma, digamos, “não-convencional” de prevenção (paternalizando as pessoas e atropelando as escolhas e responsabilidades individuais): a hepatite C tem cura em mais de 90% dos casos quando o tratamento é seguido corretamente.

A falta do conhecimento sobre as hepatites virais é um grande desafio. A recomendação é que todas as pessoas com mais de 45 anos façam o teste, gratuitamente, em qualquer posto de saúde. Em caso de resultado positivo, o SUS - Sistema Único de Saúde oferece tratamento para todos os tipos de hepatite, independente do grau de lesão do fígado.

Ao compartilhar essas informações aqui, e divulgando esse artigo em nossas redes sociais, a SICCS tem a intenção de contribuir para a conscientização proposta pelo Julho Amarelo.

Convidamos você a fazer o mesmo.

Fontes
www.gov.br/ebserh/pt-br/
www.saude.pr.gov.br/Pagina/Hepatites-virais
www.saude.es.gov.br/hepatitesvirais


Saúde pós-pandemia: o que mudou no comportamento das pessoas?

A emergência sanitária global acabou, inclusive “oficialmente”, como “decretado” pela própria OMS em comunicado mais ou menos recente - e, diga-se de passagem, o órgão da ONU não foi exatamente um exemplo de mira certeira durante a crise provocada pelo coronavírus, no início revelando o que muitos ainda consideram imprudência e, no final, provavelmente pecando por um considerável “excesso” de cautela e insistente alarmismo.

Órgãos oficiais, locais e globais, são uma referência importante, claro, mas inciativas nascidas da própria sociedade precisam ser bem consideradas e cruzadas/comparadas com as de qualquer instância que possa sofrer (mais fortemente) influências políticas - como, ninguém há de negar, é a ONU. Foquemos, portanto, num importante player global do segmento de saúde.

Para compreender as recentes mudanças nas expectativas, atitudes e comportamentos em relação à saúde e bem-estar, o Grupo Allianz Partners conduziu uma pesquisa em fevereiro de 2022, envolvendo mais de 25 mil consumidores, em 10 países, inclusive o Brasil. Os resultados revelaram 4 tendências que se intensificaram durante a pandemia, especialmente devido à mudança na relação das pessoas com a tecnologia.

Mesmo depois de mais de 1 ano, essas tendências fornecem insights valiosos sobre as transformações que ainda estamos vivendo desde o surgimento da emergência sanitária global, do cuidado médico até o comportamento das pessoas e o uso de tecnologias inovadoras. Sãos tendências que, tudo indica, estão moldando o presente e o futuro do setor de saúde e bem-estar.

A 1ª tendência está relacionada a mudanças na área médica. Nos últimos anos, tem havido um aumento nos casos de doenças crônicas e problemas de saúde mental, impulsionados pelo envelhecimento da população, estilos de vida sedentários, dietas inadequadas e diversos tipos de pressões sociais, além do ressurgimento parcial de doenças infecciosas, como sarampo.

Consequentemente, 47% dos jovens da assim chamada Geração Z (entre 18 e 25 anos) expressaram preocupação com problemas de saúde mental, enquanto 48% das famílias com filhos continuavam demonstrando preocupação com a covid-19 e outros vírus.

A 2ª tendência se refere a uma interessante, e extremamente relevante, mudança de comportamento: a transformação do paciente passivo em um ativo, ou seja, alguém que agora busca tomar decisões ativas para determinar seu próprio cuidado médico.

No tema saúde preventiva, o Brasil se destacou, liderando o ranking entre os participantes da pesquisa. Um exemplo: 60% dos pacientes com mais de 65 anos se mostraram interessados em exames de triagem precoce para prevenir o surgimento de condições específicas às quais possam ser vulneráveis, seja por individualidade biológica (inclusive fatores genéticos) ou estilo de vida.

A 3ª tendência envolve diretamente avanços tecnológicos. A saúde remota tornou-se uma realidade mais presente, com o uso da telemedicina nitidamente impulsionado: terapia remota on-line, atendimentos simples e triagem inicial, entre outros. No Brasil, observou-se um aumento de teleconsultas e entregas de medicamentos em domicílio, sendo este segundo item utilizado por 20% das famílias com filhos. Dentro do universo da pesquisa, os brasileiros são os que mais procuraram esse tipo de serviço.

A 4ª tendência também está relacionada à evolução tecnológica. Estamos vivendo um momento de controle hiperpersonalizado impulsionado por dados. O uso de tecnologias que permitem o monitoramento de várias métricas tem modificado a relação das pessoas com sua saúde, o acompanhamento de atividades físicas e o conhecimento de seus próprios corpos. Falamos desse tema recentemente aqui em nosso blog, num artigo sobre saúde digital.

O panorama final apresentado mostra uma população com indivíduos mais conscientes sobre sua própria saúde, começando pelo do monitoramento diário do corpo, passando pela preocupação com o acesso a serviços médicos - tanto na rede pública quanto no sitema privado - e chegando até uma integração mais ampla de todos esses aspectos com dispositivos eletrônicos.

Em outras palavras, além de maior atenção à saúde, existe também uma busca por praticidade e atendimento rápido e seguro, revelando um binômio cuidado + conveniência que está moldando as possibilidades de atendimento e influenciando a adesão das pessoas. É fundamental que o segmento de saúde continue acompanhando essas tendências e adaptando-se a elas, pois compreender as mudanças nas expectativas e comportamentos dos indivíduos permite desenvolver soluções inovadoras que atendam às necessidades/desejos - sempre em evolução - dos consumidores.

Sempre atenta ao fluxo tecnológico-comportamental que atinge soluções de saúde individuais e, principalmente, corporativas, a SICCS atua em constante sinergia com seguradoras e operadoras parceiras, para assim oferecer soluções adequadas à realidade atual do segmento, inclusive no que tange a mudanças trazidas pelo grande impacto desse fato histórico que foi a pandemia.

Porque a emergência sanitária global pode ter acabado, mas seu legado, psicológico e prático, dever surtir efeitos por muito tempo.

 

Fontes
www.revistacobertura.com.br
www.allianz-partners.com/pt_BR


Encaixar as peças para não acabar em pedaços.

A saúde suplementar no Brasil tem enigmas e desafios.

Um quebra-cabeça necessariamente montado em conjunto, mas em que ninguém conhece as peças dos outros - e talvez estejam também todos vendados, sem enxergar até mesmo as próprias peças, portanto tateando no escuro. Não seria uma metáfora muito implausível para descrever o cenário da saúde suplementar no Brasil. Uma coisa parece consensual entre os participantes (leia-se players): do jeito como tudo acontece hoje, a situação está no limiar do insustentável.

Uma pesquisa simples, rápida e direta traz informações francamente contraditórias, dependendo do ponto de vista, da causa e do interesse de quem as partilha. De um lado, clientes/usuários se desesperam com reajustes sempre muito além da inflação - pela qual normalmente são reajustados salários e benefícios, como aposentadoria, por exemplo - e de qualquer previsibilidade. Por outro lado, operadoras anunciam que o fim está próximo, como profetas que alertam para a chegada do apocalipse em fábulas e filmes de gosto duvidoso.

Correndo por fora, está o governo (que, vale lembrar, não é só composto pelo Executivo) e suas diversas instâncias e agências, com um apetite regulatório que tende ao infinito, amarrando dinâmicas de livre concorrência que provavelmente seriam parte da solução. Quais são as chances de um jogo jogado desse jeito “dar certo”, trazendo resultados econômicos satisfatórios para o setor e mais acesso à saúde para o cidadão? Alerta de spoiler: pouca, ou quase nenhuma.

Vejamos algumas informações conflitantes. Segundo a ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar, em 2022 o setor de planos de saúde manteve o crescimento, incorporando quase 1,5 milhão de beneficiários e totalizando cerca de 50,5 milhões de usuários em planos de assistência médica, maior número desde dezembro de 2014. Mas a mesma agência informa que o lucro líquido dos planos caiu de R$ 3,8 bilhões para R$ 2,5 milhões, pior desempenho desde o início, em 2001, da série histórica que monitora o segmento.

Na interpretação desses dados, é importante considerar o “fator pandemia”: o setor já esperava um efeito na utilização após o isolamento social, pois durante o período em que ele vigorou as pessoas não utilizavam seus planos, para obedecer ao “fique em casa”. Acredita-se que, por essa razão, em 2020 houve um lucro histórico, de R$ 18,7 bilhões. Mas tomemos a queda mais recente, citada no parágrafo anterior, nada menos que 99% de redução (porque, sim, é de bilhões para milhões).

Como é possível um setor crescer além da casa do milhão em usuários e ainda assim perder lucratividade? Mais clientes não representariam maior receita? Mesmo o lucro tendo decrescido, mais de R$2 milhões ainda não é um resultado considerável, melhor que um prejuízo evidente? Bem, sim e não. Queda de 99% em lucratividade é ao mesmo tempo sinal de alívio e alerta: melhor “zero a zero” que “menos alguma coisa”, claro. Mas quedas vertiginosas sempre dão... vertigem. Bem, se existe alguma coisa complexa no universo, é a saúde suplementar no Brasil. O.K., talvez não a mais complexa de todas, mas com certeza entraria num Top 10.

Vejamos. Agregar um cliente gera receita, sempre. Mas receita não é lucro. São conceitos financeiros diferentes, como provavelmente o leitor sabe, mas não custa relembrar. Receita é, grosso modo, o valor que adentra e circula no sistema. Lucro é o que se contabiliza depois de cobertas as despesas. Portanto, um cliente gera lucro se o custo de atendê-lo for menor do que o valor que ele injeta pagando pelo serviço. Conceito simples - e basilar.

Executivos muito experientes no setor apontam que uma das causas do cenário complicado seria a limitação, pelas operadoras, da aquisição de planos individuais, o que evitaria trazer usuários mais jovens - por isso, mais “baratos” que os mais idosos, já que têm menos problemas de saúde. O menor custo dos mais jovens naturalmente compensaria o maior custo dos mais velhos, promovendo mais equilíbrio.

E por que as operadoras limitam a oferta de planos individuais? Porque esse tipo de produto é muito mais regulamentado do que os planos empresariais/corporativos, inclusive em termos de reajuste, dificultando o manejo econômico da carteira. Um simulacro de solução que o mercado encontrou foram os planos corporativos para pequenas (pequeníssimas) empresas, com 2 ou 3 “vidas”, que combinam de forma mais ou menos aceitáveis valores mais acessíveis para os usuários com mais liberdade de gerenciamento para a operadora.

Mas o Legislativo, com sua sanha paternalista e regulatória, já avança sobre essa modalidade, com um projeto de lei que visa a limitar os reajustes de planos coletivos. O usuário desinformado diria “que bom”, até se informar e descobrir que o excesso de limitações à atividade acabará encarecendo seu plano, se não levar sua operadora à insolvência pura e simples, deixando-o sem plano de saúde nenhum...

Muitos parlamentares, todos sabemos, decidem sua atuação pelo que a proposta de uma lei projeta publicamente na sociedade (proteger o consumidor “indefeso”, por exemplo), não por seus efeitos práticos no dia a dia do cidadão (como inviabilizar o acesso desse mesmo consumidor a um serviço importantíssimo para ele, ou dificultar, e mesmo inviabilizar, toda uma área de atividade). Já o Judiciário contribui para o problema com decisões arbitrárias sobre o que é taxativo ou indicativo no rol de serviços oferecidos pelas operadoras.

Diga-se de passagem, que nesse tema não existem mocinhos nem vilões. Operadoras certamente pecam por falta de transparência, colocando sob rubricas genéricas extremamente vagas - como “aumento do custo de insumos de saúde”, “inflação médica” ou “incorporação de novas tecnologias”, incompreensíveis para o usuário médio - a justificativa para reajustes muitas vezes desesperadores para seus clientes. O mais provável é que sejam verdades parciais, misturadas com questões de gerenciamento e tentativas de aumentar margens de lucro (tudo, claro, variando de operadora para operadora).

Por sua vez, muitos usuários envolvem-se em esquemas em que há a realização de exames e procedimentos excessivos e desnecessários, ou até mesmo fraudes evidentes, minando a saúde financeira das operadoras com cifras que já são estimadas em bilhões. Também nesse caso, cada cliente é um cliente, e os que agem de forma antiética certamente são uma minoria, mas ao que parece com grande potencial nocivo. Existe, ainda, a alta taxa de judicialização, em que clientes antiéticos e éticos reivindicam serviços presentes ou não em contratos, gerando uma variável difícil de computar.

Não parece razoável, como sugere em artigo recente um conhecido empresário do setor, que a solução seja regular todos os entes atuantes no segmento - planos de saúde, prestadores médicos consumidores (PF/PJ), indústria farmacêutica - por considerar que o ônus regulatório recai, injustamente, inteiramente sobre as operadoras. Não é lógico pensar que a ineficiência de um setor altamente regulado pelo Estado, e por isso mesmo sofrendo de considerável imobilidade crônica e severas distorções, seja mais Estado.

O melhor caminho parece ser o de sempre, e que a maioria dos empreendedores frequentemente deseja e expressa: um mercado mais livre, o máximo possível, em que a concorrência seja promovida e estimulada e o Poder Público atue apenas para corrigir distorções evidentes e reprimir abusos, de todos os lados - e não para multiplicar amarras burocrático-regulatórias que, ao que tudo indica, nos trouxe à situação delicada em que estamos hoje.

O mundo não vai acabar num abismo totalmente sem planos de saúde, porém o colapso de alguns players e a falta de acesso de muitos cidadãos já é problema suficiente - até porque os planos acabam por cumprir a nobre função de evitar ainda mais sobrecarga no sistema público. Algo precisa mudar, e logo, para evitar uma crise. Às cegas, e cada um por si, não haverá progresso. Portanto, o “algo” que precisa mudar provavelmente é de natureza colaborativa.

Não existe solução simples para esse quebra-cabeça. Mas o tempo para solucioná-lo parece estar se esgotando.

 

Fontes
www.gov.br/ans/pt-br
www.infomoney.com.br
www.agenciabrasil.ebc.com.br
www.cnnbrasil.com.br/saude
valorinveste.globo.com
www.valor.globo.com
www.oglobo.globo.com


A saúde digital está chegando.

Entenda um dos principais conceitos dessa mudança inevitável.

A digitalização da medicina permite vislumbrar grandes avanços para a saúde global. Registros médicos eletrônicos, aplicativos móveis de saúde, imagens médicas, exames genéticos de baixo custo e novos sensores, inclusive “wearables” (dispositivos de vestir, como relógios que indicam a frequência cardíaca e a pressão arterial, por exemplo) fornecem um fluxo cada vez maior de dados digitais de saúde.

Combinada com inteligência artificial (IA), essa riqueza de dados tem um enorme potencial para a saúde e pode melhorar a vida de milhões de pacientes em todo o mundo, possibilitando diagnósticos mais precisos, tratamentos personalizados, prevenção precoce de doenças etc. Pode até não parecer, mas existe em curso uma grande e intensa discussão sobre como os dados digitais podem transformar a medicina.

À parte delírios (ao menos por enquanto) de que os profissionais de saúde serão completamente substituídos por “bots”, a possibilidade de evolução é realmente promissora, mas a maioria dos dados médicos atuais carece do que podemos chamar de interoperabilidade. Ou seja, ocultos em bancos de dados isolados e sistemas incompatíveis, são difíceis de trocar, analisar e interpretar, atrasando o progresso médico. A interoperabilidade é pré-requisito e fator vital para que as inovações digitais previstas na medicina futura alcancem todo seu potencial.

Dizendo de outro modo, a interoperabilidade pode ser definida como “a capacidade de dois ou mais sistemas ou componentes trocarem informações e usarem as informações que foram trocadas”. Definições ainda mais abrangentes fazem distinção entre componentes, camadas ou níveis. Embora esses componentes possam diferir em certo grau entre as definições, geralmente seguem uma mesma distinção: componentes técnicos de nível inferior e componentes organizacionais de nível superior. Vamos entender melhor essas camadas.

Interoperabilidade técnica - Garante recursos básicos de troca de dados entre sistemas (por exemplo, o singelo ato de mover dados de um pen drive para um computador), o que requer canais de comunicação e protocolos para transmissão de dados. Com as redes digitais e os protocolos de comunicação atuais, alcançar a interoperabilidade técnica geralmente é relativamente simples. 

Interoperabilidade sintática - A interoperabilidade sintática especifica o formato e a estrutura dos dados. A troca estruturada de dados de saúde é suportada por organizações internacionais de desenvolvimento de padrões, como Health Level Seven International (HL7) ou Integrating the Healthcare Enterprise (IHE), que especificam padrões de TI de saúde e seu uso em sistemas.

Interoperabilidade semântica - É o domínio de terminologias e nomenclaturas médicas, que garantem que o significado dos conceitos médicos possa ser compartilhado entre os sistemas, fornecendo assim uma “língua franca” digital, uma linguagem comum para termos médicos que é, idealmente, compreensível para humanos e máquinas em todo o mundo. Alguns exemplos: achados clínicos, procedimentos, substâncias, organismos, estruturas corporais.

Interoperabilidade organizacional - Na camada mais alta, a interoperabilidade também envolve organizações, legislações e políticas. A troca de dados entre sistemas de TI de saúde não é uma atividade-fim: existe para ajudar os profissionais de saúde a trabalhar com mais eficiência e melhorar a saúde dos pacientes. Isso requer processos de negócios e fluxos de trabalho comuns às instituições, exigindo políticas que forneçam incentivos para a troca de dados interoperáveis e, em certos casos, até imponham a interoperabilidade por meio de regulamentações legais mais abrangentes.

A medicina digital nem sempre requer análises sofisticadas ou algoritmos complexos de IA. Em muitos casos, simplesmente seguir o pensamento relativamente clichê de “disponibilizar as informações certas, para a pessoa certa, no momento certo” pode melhorar significativamente o atendimento ao paciente. Porque, muitas vezes, partes importantes das informações médicas são perdidas à medida que os pacientes passam pelos sistemas de saúde público e privado.

Por exemplo, se um paciente for reinternado, as informações relevantes de admissões anteriores em outros hospitais podem não estar disponíveis. Isso leva à ineficiência do atendimento e pode mesmo apresentar sérios riscos para o paciente (uma possibilidade: a falta de comunicação resultar em interações medicamentosas adversas). É importante dizer que, ao tornar as informações relevantes facilmente acessíveis, os sistemas de TI de saúde interoperáveis também facilitam o trabalho de médicos e outros profissionais da área.

Portanto, sabemos que a medicina digital já está (e ficará cada vez mais...) presente na vida das pessoas, e que a interoperabilidade é um dos pilares para que ela exista, dissemine-se e possa atingir seu máximo potencial. Instituições que atuam na área de saúde não só não podem ignorar esses fatos, como precisam se preparar para lidar com eles e até mesmo antecipar os próximos passos dessa evolução. Talvez seja possível, por exemplo, utilizar os múltiplos recursos da tecnologia para reduzir certos custos, por meio de atendimento remoto.

A SICCS, que tem como um de seus principais focos de atuação a comercialização de planos empresariais/coletivos de saúde, está sempre atenta às inovações da área e compartilha com você tudo que acredita ser relevante para sua tomada de decisão. Se a digitalização da saúde é uma tendência, dentro dessa nova realidade nossas soluções serão inevitavelmente influenciadas pelos novos serviços e práticas adotados pelas operadoras com que trabalhamos.

Estar em constante alinhamento e sintonia com o cenário atual da saúde é que nos permite oferecer as melhores opções para sua empresa.

 

Fontes
www.linkedin.com/in/fepmp
www.mv.com.br
www.ehcos.com/pt-br
www.saudedigitalnews.com.br


Como se ajustar ao reajuste?

Expectativas e estratégias para o reajuste dos planos de saúde

Todo ano é preciso lidar com a expectativa e preparar estratégias para absorver o impacto, seja o beneficiário um indivíduo, uma família - ou uma empresa. Sim, estamos falando do tão temido quanto inevitável reajuste anual nos preços/custos dos planos de saúde contratados por pessoas físicas e jurídicas.

No ano passado, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) “limitou” a 15,5% o índice de reajuste para os planos de saúde individuais e familiares sujeitos à regulamentação, ou seja, contratados a partir de janeiro de 1999 ou adaptados à Lei nº 9.656/98. O teto vale para o período entre maio de 2022 e abril de 2023 para contratos de cerca de 8 milhões de beneficiários (16,3% dos consumidores de planos de assistência médica no Brasil).

Trata-se da maior alta em mais de 20 anos, quando se considera o modelo atual de reajuste, em vigor desde o ano 2000. Antes desse, o percentual mais elevado já autorizado pela ANS havia sido de 13,57%, em 2016. Segundo algumas análises já divulgadas, baseadas em números da ANS relativos aos primeiros 9 meses de 2022 e no IPCA de 5,79%, o teto do reajuste em 2023 deve chegar a 10%. Vale lembrar que a responsabilidade da ANS não é fixar os valores dos planos de saúde, mas limitar os aumentos das mensalidades.

O setor de saúde suplementar vem recebendo cada vez mais beneficiários: o mercado fechou 2022 com o recorde de 50,5 milhões de usuários ativos nos planos de saúde, o maior número em 8 anos. Mesmo com esse crescimento, há preocupações no horizonte das operadoras: prejuízo de 3,4 bilhões de reais acumulado nos primeiros 9 meses do ano passado e a taxa de sinistralidade de 93,2%.

Certamente não é fácil para os players do setor manter o equilíbrio: não há dúvida de que reajustes muito altos afugentam clientes (sem falar no desemprego gerado durante a “parada” econômica da pandemia, da qual o Brasil ainda se recupera) e muito baixos podem comprometer a saúde financeira das empresas que atuam no segmento. Mas, quase todos parecem concordar, maior transparência nos cálculos não seria má ideia.

Um índice extremamente relevante e que parece ser uma espécie de mistério responde pela sigla de VCMH: Variação de Custos Médico-Hospitalares (“inflação médica” para os íntimos), que além dos custos diretos de serviços de saúde, como consultas, exames, terapias etc., também leva em conta uma série de outros fatores, como envelhecimento da população, desperdícios, cenário econômico e, principalmente, internações e incorporações de novas tecnologias.

Historicamente, o índice VCHM sempre varia acima da inflação oficial, o que parece ser um fenômeno mundial. No Brasil, o número mais recente, divulgado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) em novembro de 2022, e relativo a março do mesmo ano, chegou a 23%. É uma “baixa” se comparado aos meses anteriores, mas ninguém discutiria que continua sendo uma porcentagem alta.

Enquanto o reajuste dos planos de saúde individuais/familiares depende do cálculo feito pela ANS considerando o mercado inteiro, o reajuste dos planos de saúde coletivos são definidos em negociação entre a operadora e a empresa/organização contratante. Esse reajuste de planos coletivos depende também do porte da empresa: pequenas e médias empresas (PMEs) normalmente estão num pool de risco da operadora, no qual se baseia a análise de sinistro; já grandes empresas têm apólices independentes, definidas a partir de seus próprios números e condições externas, como a inflação.

Pode-se ter boa dose de certeza de que o enigmático VCHM está lá, em ambos os casos, e sua, digamos, complexidade - de difícil entendimento até para alguns analistas muito bem preparados - resulta naquilo que todo chefe de família ou gestor de empresa teme: a imprevisibilidade. Não é que não seja preciso, para as operadoras, repassar custos, mas o componente “surpresa” é suficiente impactante para frustrar qualquer planejamento.

Por isso, é importante adotar estratégias que amenizem esse impacto, como o uso de ferramentas de gestão de benefícios corporativos, já que esse processo não é assimilado muito facilmente pelo RH: uma coisa é oferecer o plano de saúde, outra é ter capacitação para lidar com suas especificidades. Os serviços de saúde têm custos relevantes e reduzi-los é um grande e necessário desafio, ou a empresa pode sofrer com gastos crescentes devido ao uso inadequado dos serviços.

Um exemplo de boa prática é a modelagem preditiva, uma metodologia baseada em algoritmos cuja função é gerar previsões sobre o risco de um determinado evento ocorrer em um intervalo de tempo futuro. No contexto da saúde corporativa, pode ser aplicada para identificar grupos de risco, apontando quais problemas merecem atenção especial no conjunto dos colaboradores. A partir dessas informações é possível, inclusive, desenvolver programas de saúde preventiva, direcionando as pessoas para um comportamento de autocuidado.

Esse tipo de ferramenta está entre as muitas soluções para gestão de benefícios oferecidas pela SICCS. Um bom (e clássico) paralelo com quanto esse tipo de solução é importante pode ser feito pensando no comando de um avião: as soluções seriam os instrumentos; a empresa, a própria aeronave; e os resultados, tanto o rumo correto quanto a estabilidade no percurso, apesar de alguma eventual turbulência.

Porque nas situações em que é preciso levar as pessoas juntas e bem a um mesmo destino, é preciso poder- e saber - fazer ajustes confiáveis na rota.

 

Fontes:
www.wellbe.com
www.valorinveste.globo.com
www.bancopan.com.br
www.financaspraticas.com.br

 


Jornada do paciente: entenda esse conceito

Um dos vícios do mercado corporativo é dar nomes novos a fenômenos bem conhecidos, travestindo de “inovação” temas cujo entendimento tradicional é bastante consistente e consolidado, fornecendo uma base mais do que suficientemente confiável para gerenciá-los quando o dia a dia do negócio assim o exige.

Mas, nos melhores casos, esses novos conceitos realmente trazem algo de novo, ou organizam de modo realmente inédito dados e informações que até então estavam dispersos num determinando campo de conhecimento. Esse tipo de exemplo, mais positivo e produtivo, parece ser o caso da assim chamada “jornada do paciente”, expressão que vem se tornando cada vez mais presente em tudo que se relaciona à área de saúde.

A jornada do paciente é a cadeia de eventos interconectados que todo paciente experimenta ao se envolver com uma instituição, instalação ou operadora de saúde. Ela pode incluir muitas etapas e ações, desde o conhecimento da marca, passando pelo canal em que acontece o 1º contato e o envolvimento com campanhas de comunicação, chegando até o agendamento de compromissos.

Toda instituição de saúde busca encontrar mais clientes, mas é indispensável pensar na fidelização dos que já fazem parte do sistema, porque na dinâmica natural das coisas o caminho do paciente durante seu envolvimento com a instituição varia: alguns são admitidos em caráter de urgência e, com o problema resolvido, não voltam mais.

Já outros necessitam de cuidados prolongados, e existem também os que apenas passam pela instituição num processo de pesquisa de preço e qualidade dos serviços oferecidos. O foco na jornada do paciente é, portanto, um esforço para que todos os pacientes, independente do caso, possam ter a melhor experiência possível.

Desta forma, é possível aumentar o grau de satisfação e a segurança dos clientes atuais e futuros, impulsionando seu engajamento ao longo do tratamento e contribuindo para sua fidelização. Tudo precisa fazer parte de uma estratégia única, do estágio inicial de conscientização (quando o paciente pesquisa seus sintomas no “Dr. Google”) até as interações presenciais/remotas com a equipe médica, para “follow-up” de consultas, lembretes para cuidados continuados, entre outros.

Mapear a jornada do paciente é uma forma de entender, na prática, como aprimorar o processo de atendimento, obtendo assim melhores resultados que incluem a redução do tempo médio de diagnóstico, a aceleração do início do tratamento precoce (muitas vezes importantíssimo) e também, consequentemente, economia de custos, tanto para a operadora de saúde como para a empresa que contrata seus serviços. Lembremos que um colaborador mais saudável é, via de regra, um colaborador mais satisfeito e produtivo.

A crescente importância do conceito de jornada do paciente tem relação direta com os avanços do que podemos chamar de “saúde digital” e todas as transformações recentemente trazidas pelo tema, que ganhou impulso inesperado - e espantoso - durante a pandemia, impactando muito significativamente clientes, operadoras de seguro saúde e diversos segmentos de negócios.

Portanto, pesquisar para certificar-se de que a operadora de um plano de saúde coletivo conhece e considera esse conceito nos serviços que oferece trata-se, atualmente, de uma decisão estratégica, que demanda uma maior dose de atenção e de cuidado - além de novos critérios de análise - dos decisores de negócios. Todos os negócios.

 

Fontes
www.totvs.com
www.fcmsantacasasp.edu.br
www.myoncare.com


Querem mandar no seu refrigerante

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um manual global com informações e orientações aos governos sobre como implementar a cobrança de (mais) impostos sobre bebidas açucaradas.

Certos levantamentos indicam que, atualmente, mais de 80 países utilizam alguma medida desse tipo para reduzir o consumo de itens como refrigerantes, bebidas lácteas com sabor, energéticos e sucos de fruta industrializados, entre outros.

O objetivo da OMS (sempre tão benevolente...) seria estimular os países a implementar medidas similares às tomadas para as taxações de tabaco e álcool, que supostamente teriam se mostrado eficazes para prevenir mortalidade precoce e doenças não-transmissíveis.

No Brasil, tramita no Senado um projeto de lei (de autoria de um senador do PT de Sergipe) que institui a alíquota de 20% sobre refrigerantes e bebidas açucaradas, já aprovado na Comissão de Assuntos Sociais, em maio de 2022, e que agora está na Comissão de Assuntos Econômicos.

O paralelo entre a produção/consumo de refrigerantes e a indústria do tabaco é quase um clássico: de acordo com a mesma OMS, a principal medida que teria ajudado na redução de consumo de cigarros convencionais no Brasil é (adivinhe...) o aumento dos preços das cartelas de cigarro.

Entretanto, segundo o Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas (Grea), do Instituto de Psiquiatria (IPQ)  da Faculdade de Medicina da USP, fonte muito mais confiável, outras medidas ajudaram nessa redução, com destaque  para a lei que proíbe fumar em espaços públicos e o fim da publicidade direta e indireta de cigarro.

Já que a comparação refrigerante/tabaco é um argumento recorrente, eis aqui um dado a se considerar: nos 12 anos anteriores à pandemia, houve uma queda de 40% no hábito de fumar no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, tendo os fumantes passado de 15,6% da população em 2006 para 9,3% em 2018. Sem aumento de impostos.

O mercado publicitário sabe, desde os anos 1990, que além das restrições à divulgação do produto, o consumo de cigarro caiu porque fumar saiu de moda, uma vez que passou a ser percebido como um ato pouco inteligente de autodestruição da saúde (tendo tido o aumento do preço muito provavelmente uma contribuição periférica).

Raciocínio-base do manual sobre refrigerantes e produtos similares: o consumo excessivo dessas bebidas leva a maior risco de obesidade e suas complicações, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares, renais e oculares, entre outras. Mas é preciso dar ênfase, na análise de tão bem intencionada “sugestão”, à palavra “excessivo”.

Um só cigarro faz mal, para qualquer pessoa; uma única latinha de refrigerante, não necessariamente. Embora realmente haja uma relação causal entre o consumo excessivo de açúcar e problemas de saúde, o ingrediente (utilizado como elemento para dar sabor) não está presente apenas em refrigerantes, mas também em chocolates, sorvetes, bolos, tortas, barrinhas de cereais e até no cafezinho da maioria das pessoas. Taxaremos, no futuro, todos esses alimentos?

Passaremos também a sobretaxar, por exemplo, linguiça, pizza e cerveja, porque em algum grau fazem mal a quem os consome? E só "alimentos que fazem bem" serão vendidos com base nos custos da cadeia de produção e distribuição?

Não parece boa ideia utilizar a mão pesada do Estado para implementar qualquer política coercitiva para que os indivíduos sejam saudáveis - principalmente via aumento de impostos. Os refrigerantes e seus correlatos podem até não fazer bem, o que é diferente de fazer mal, portanto não são demônios tão feios como se pinta por aí.

Consumidos com moderação, representam um prazer sem maiores consequências e parece haver consenso palpável entre as pessoas normais - não o famoso “consenso científico” - de que o prazer “puro” tem de fazer parte da vida.

Mesmo que exista uma correlação significativa entre maior taxação e redução de consumo, soa muito (muito...) mais democrático que as próprias pessoas (ou os pais, no caso das crianças, mesmo com todas as nuances da situação) tenham direito de decidir se sua alimentação será saudável ou não.

Possíveis impactos sobre o sistema público de saúde (consequência que carece de melhor demonstração, com dados mais robustos) precisam ser equacionados de outra forma, não cerceando opções e preferências que podem, para parte das pessoas, se tornar vícios. Lembremos que quem financia o sistema público é... “o” público.

Por motivos econômicos, culturais e até filosóficos - preservar o importante pilar da liberdade de escolha - uma conclusão muito mais plausível e prudente é que é mais produtivo, e alinhado à democracia, investir na educação e no esclarecimento do público.

O indivíduo sabe, ou precisa ser capaz de aprender, o que é melhor para ele.

 

Fontes
www.jornal.usp.br
www.bvsms.saude.gov.br
www.revistagalileu.globo.com
www.ge.globo.com


Combater a obesidade não é gordofóbico

Nos últimos anos, o que idealmente seria tratado como um problema de saúde pública acabou se tornando mais um item na pauta das chamadas políticas identitárias. A “gordofobia”, definida pelo Dicionário Houaiss como “aversão preconceituosa contra pessoas gordas ou obesas”, vem tirando o foco de problemas de saúde causados pela obesidade e se tornou uma justificativa para atacar toda e qualquer pessoa que não concorda com o movimento crescente de ativismo social em torno do “corpo gordo”.

Apesar da pressão dos ativistas, a gordofobia não é crime previsto na legislação brasileira. Mesmo assim, é frequentemente invocada, como se existisse uma tipificação penal oficial e estabelecida, o que simplesmente não é verdade. Tratar mal alguém por suas características físicas é certamente reprovável, condenável e pode até mesmo ser odioso e criminoso - vide episódios de racismo. Mas a percepção de falta gentileza e grosseria é algo muito diferente da caracterização de algo em termos penais e jurídicos.

No site do Senado Federal há uma área em que podem ser apresentadas sugestões para a criação de novas leis. Sobre o tema “gordofobia” há propostas que pedem, entre outras coisas: o fim das catracas nos veículos de transporte coletivo, como “forma de lutar contra o preconceito”; tratar a gordofobia como crime hediondo (ou seja, na mesma categoria de homicídio e estupro); que pessoas com obesidade mórbida recebam um benefício do governo até que passem por cirurgia bariátrica custeada pelo SUS.

No Senado propriamente dito - uma das instâncias do nosso sistema legislativo bicameral - já foram registradas outras movimentações, como a que classifica como discriminação a cobrança adicional aplicada a pessoas obesas que ocupam mais de um assento em meios de transporte e eventos culturais (sem nenhuma menção aos direitos do passageiro de peso médio que vai ao lado).

Para adicionar alguma racionalidade à questão, fiquemos no exemplo da aviação: o peso total da aeronave faz uma tremenda diferença para sua operação e para o custo-benefício da empresa. Uma demonstração incontestável é a atitude relativamente recente tomada por uma famosa companhia aérea americana, na qual por mais de 75 anos os pilotos tiveram que carregar manuais de voo que chegavam a pesar 18kg. A troca por tablets reduziu esse peso de forma tão significativa que levou à economia de combustível de cerca de US$ 1 milhão/ano.

Para o CEO de outra companhia aérea, que não vamos identificar aqui, a conta é simples: tudo o que um avião tem para vender é o espaço dentro dele, e eventualmente as pessoas vão começar a se perguntar por que quem é mais leve tem de pagar por quem é mais pesado. A aceitação ou rejeição do fato pelos passageiros seriam baseadas em quais critérios? Todos que viajam por uma mesma companhia aérea - um ambiente privativo - teriam de aceitar a política aplicada? Seriam claramente informados disso? Os que se recusassem, para economizar seu próprio dinheiro (eventualmente até escolhendo outra companhia) seriam classificados como gordfóbicos?

Voltando ao campo da justiça, parece ainda não haver pacificação quando o assunto é gordofobia. Há casos da aplicação do termo em condenações, principalmente na Justiça do Trabalho, mas também negação de indenização porque o juiz considerou não haver “previsão legal para indenização pelo mero aborrecimento”. Em termos bem práticos para boa parte dos negócios, ter menos pessoas obesas na empresa pode contribuir para um gerenciamento mais eficiente de custos com saúde corporativa.

Isso não significa, evidentemente, que é desejável ou “permitido” (em termos de dignidade humana...) ter como política não contratar pessoas gordas (o que, aí sim, tangenciaria um preconceito desumanizante e mercantilista odioso). Até prova em contrário, as pessoas precisam ser contratadas por sua competência. Mas esses dados podem significar, isso sim, que é muito positivo criar programas e atividades de incentivo à saúde, que previnam a obesidade e suas consequências, rejeitando sua glamourização no discurso pós-moderno.

Certos casos demonstram que o policiamento da linguagem atinge mais que a livre expressão em redes sociais, por exemplo. Embora haja evidências praticamente incontestáveis de que a obesidade aumenta estatisticamente os riscos de ter uma série de problemas de saúde - diabetes, hipertensão, distúrbios respiratórios e até quadros graves de Covid-19 - um médico que hoje em dia tente alertar seu paciente sobre esses riscos pode até ser acusado de preconceituoso e gordofóbico. Militantes contestam o próprio conceito de evidência.

Em uma publicação cujo título é “Guia Express Direitos da Pessoa Gorda”, a autora (uma advogada) afirma que “todo comentário invasivo e constrangedor relacionado ao peso, aconselhamentos que fogem da especialidade no momento podem ser caracterizados como gordofobia médica”. Ela chega a sugerir que pacientes gravem suas consultas e façam denúncias ao Conselho Regional de Medicina caso de sintam alvo de gordofobia.

O próprio ato de perder peso voluntariamente é tratado como gordofobia por ativistas da causa. Uma, digamos, “influencer” que se autodenomina “líder mundial em confiança corporal, anti-dieta, pró-corpo gordo, coach de aceitação, palestrante, autora”, escreveu em seu site que “se você perde peso de propósito, esse ato intencional de tentar tornar seu corpo menor é de forma inerente gordofobia.” Poderia se traduzir esse pensamento em “seu corpo, minhas regras”?

Há também, claro, quem defenda a destruição de toda a cultura ocidental para acabar com a gordofobia, e ativistas ainda mais extremos, que chegam até mesmo a associar gordofobia a nazismo. Quando se compara qualquer grau de desaprovação à obesidade - por motivos médicos, econômicos, psicológicos e mesmo “meramente” estéticos - com a segregação e o extermínio sistemático de todo um povo em fuzilamentos, crematórios e câmaras de gás existentes em campos de concentração, parece evidente que os defensores mais extremados da causa não são movidos por qualquer desejo de dignidade, mas sim por uma espécie de impulso patológico narcísico.

E que, infeliz e perigosamente, perderam qualquer senso de proporção.

 

Fontes
www.gazetadopovo.com.br
www.12.senado.leg.br
www.g1.globo.com


Respeito e cautela com o “consenso científico”

O aquecimento global, rebatizado de mudança climática, e a pandemia de Covid-19 colocaram ainda mais na pauta do dia a dia das pessoas comuns uma expressão que merece boa dose de cautela para ser explicada e/ou compreendida, inclusive por ter evidentes impactos na saúde: “consenso científico”.

Existe até quem diga que, a rigor, este fenômeno não existe, dado que sempre haverá algum nível de discordância. Mesmo assim, vale a pena tentar compreender o termo, respeitando a acepção com que hoje ele é utilizado, ou seja, a convergência majoritária de opiniões sobre um determinado assunto.

Decisões sobre tratamentos médicos e outras medidas de saúde, principalmente na esfera pública, mas também relevantes para o mercado privado, precisam ser baseadas não em intuições “puras”, sem suporte de dados, mas em evidências experimentais (embora a intuição seja um estímulo legítimo para a busca do conhecimento).

No estudo científico, existem várias situações, nem sempre consensuais. Por exemplo, dois ou mais pesquisadores podem fazer estudos separados e chegar a conclusões semelhantes (aconteceu com a Teoria da Evolução). Ou um pesquisador solitário pode ter uma “epifania” (espécie de revelação subjetiva) que o leva até uma perspectiva revolucionária. Ou, ainda, de forma colaborativa, como em casos recentes, em que milhares de pesquisadores se uniram para acelerar estudos e chegar a conclusões, caso do esforço coletivo mundial para o mapeamento genético do ser humano.

A melhor forma de descobrir as melhores evidências disponíveis é consultando os “especialistas” - não os hoje tão famigerados palpiteiros pseudotécnicos com viés ideológico, mas aqueles que sejam intelectualmente honestos, tendo realizado/revisado estudos relevantes, relatando-os com objetividade. No entanto, existem muitos casos na história da ciência em que o consenso científico, até entre esses, digamos, especialistas respeitáveis estavam errados.

Alguns exemplos mais famosos incluem visões da teoria psicanalítica freudiana sobre doenças mentais, que foram dominantes nos anos de 1950, a convicção médica pré anos 1990 sobre úlceras estomacais serem causadas por estresse e excesso de acidez e a astronomia pré-Copérnico, que confiantemente colocava a Terra no centro do universo.

Vê-se, portanto, que às vezes - muitas vezes - pode-se desafiar o tal consenso científico de forma legítima, e que sem esses desafios o progresso da ciência teria sido severamente limitado. Exemplo de efeito positivo dessa postura crítica: atualmente, a medicina trata úlceras muito mais eficazmente com antibióticos, que eliminam as infecções bacterianas que normalmente as causam (comentário irônico: não vamos nem entrar no mérito do vaivém de opiniões médico-nutricionais sobre o consumo de ovo e glúten).

Talvez seja produtivo dispor de orientações gerais para quando se pode “aceitar” o consenso científico (sem nunca prescindir da cautela) e quando ele pode ser legitimamente desafiado.

Pode-se confiar no consenso científico, com boa margem de acerto, quando ele é baseado em evidências robustas obtidas por meio de observações cuidadosas e experimentos realizados por pesquisadores com motivações prioritariamente científicas, e não excessivamente financeiras, ou, em qualquer grau, ideológicas. Detalhando: quando há teorias sólidas, baseadas em explicações das evidências, levando-se em consideração teorias rivais e publicações em revistas científicas de alta qualidade. O número de cientistas conta menos que a qualidade.

E é salutar, extremamente salutar, desafiar o consenso científico quando ele é baseado exclusivamente em “sabedoria” e tradição (que não são ciência...), em vez de evidências. E mesmo quando há supostas evidências, mas que são coletadas/interpretadas por pessoas com motivações puramente econômicas e/ou ideológicas. É também muito válido manter uma postura crítica, e a mente aberta, quando surgem novas evidências, enfraquecendo o consenso (é uma qualidade da ciência, e não uma fraqueza, que cientistas mudem de opinião frente a novas ideias, fatos e dados).

Por fim, vale lembrar uma anedota bastante saborosa do meio científico. Reza a lenda que uma dia alguém perguntou a Einstein se não o incomodava que dezenas de cientistas se dedicassem dia e noite a desmenti-lo e refutá-lo em suas pesquisas e conclusões. Ao que o gênio teria respondido algo assim:
- No que eu estiver mesmo errado, com as evidências certas, basta um.

Se até o físico dos físicos mantinha um saudável ceticismo diante de grandes mobilizações científicas coletivas guiadas por mera convicção inconsistente, ganância de prestígio (e dinheiro...) e hipertrofia do ego, parece inteligente que façamos o mesmo.

 

Fontes
www.blogs.unicamp.br
www.pt.quora.com
www.estadao.com.br